Responsável pela área de programas e parcerias, ele conta sobre a carreira, as iniciativas da instituição e a colaboração com a Aliança Empreendedora
Matheus Magalhães da Silva é um dos profissionais que impulsionam o ecossistema de impacto social no Brasil. Ele já passou pela administração pública direta e autarquias, foi líder de empresa júnior e atuou como estagiário de ONG do ramo ambiental. Hoje, acompanha a área de programas e parcerias da Fundação Arymax.
Criada em 1990, a instituição busca promover a inclusão produtiva no Brasil – conceito que se refere à inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica no universo do trabalho, seja pelo empreendedorismo ou empregabilidade, com o objetivo de gerar renda digna, ampliar o poder de escolha e melhorar a qualidade de vida.
Com uma abordagem de filantropia estratégica, a Arymax realiza apoio financeiro e técnico, desenvolve estudos e estabelece parcerias com organizações como a Aliança Empreendedora. Seus públicos e temas prioritários incluem juventudes, população negra, mulheres, economia verde e tecnologia.
Nesta entrevista, Matheus fala sobre sua trajetória na área social, os desafios e aprendizados do setor e as principais frentes de atuação da Arymax. Entre os assuntos centrais, estão o apoio ao microempreendedorismo, os caminhos de incidência em políticas públicas e perspectivas para a inclusão produtiva no país.
- Matheus, o que te motivou a trabalhar na área de impacto social? E como foi a sua trajetória até aqui?
Desde muito cedo, entendi que gostaria de alinhar o meu trabalho a um propósito. Ainda que não soubesse exatamente qual seria esse propósito, fui construindo minha trajetória buscando organizações e profissionais que eu admirasse e que, de alguma forma, gerassem impacto positivo em suas ações e escolhas.
Estar próximo dessas pessoas, e contar com o apoio incondicional da minha família, me inspirou e me fez compreender que o propósito que eu tanto buscava é “deixar o mundo um pouco melhor para aqueles que mais precisam”. Nesse percurso, já se passaram 8 anos atuando em organizações com finalidades socioambientais, o que corresponde a 1/4 da minha vida. Sou muito feliz com as descobertas que faço a cada dia e tenho certeza de que a inclusão produtiva é um caminho essencial para evoluirmos enquanto sociedade, oferecendo às pessoas condições de escolha e oportunidades de bem-estar social. Digo isso porque foi ao ser incluído produtivamente que me entendi enquanto um ser integral.
- Quais são os principais aprendizados e desafios em sua carreira dentro deste setor?
Um dos principais aprendizados foi assumir que “não sabemos aquilo que não sabemos”. Mesmo que grande parte do setor baseie suas decisões em evidências, aspectos importantes ainda ficam fora do nosso campo de visão. Além disso, não existem soluções únicas e universais, pois os públicos, os territórios e as demandas são muito diversos e possuem graus de complexidade que desafiam qualquer formulador de intervenções.
Outro desafio comum é o equilíbrio entre tempo e impacto. Mudanças duradouras e de impacto comprovado demandam tempo, dedicação e paciência, o que é uma questão para o setor como um todo.
- A inclusão produtiva é um tema primordial de atuação da Fundação Arymax. O que tem sido realizado nesse âmbito?
Na Arymax, entendemos a inclusão produtiva como a inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica no mundo do trabalho, permitindo que gerem renda digna, ampliem seu poder de escolha e alcancem maior qualidade de vida. Acreditamos em um Brasil inclusivo e próspero, onde nenhum indivíduo seja marginalizado no mercado de trabalho, oferecendo a todos a oportunidade de explorar plenamente seu potencial.
Para isso, a Arymax apoia iniciativas em todo o país, a partir de um olhar sistêmico, buscando modelos inovadores, com potencial de escala e baseados em evidências científicas. Nosso foco está em economias promissoras e públicos prioritários, como a economia verde, tecnologia, juventudes, população negra e mulheres. A missão da Fundação é colaborar com instituições comprometidas com o ecossistema de inclusão produtiva.
- Um dos focos da instituição é apoiar a produção de conhecimento, com pesquisas que abordam, por exemplo, o panorama do trabalho para a juventude e a agenda ambiental conectada à redução das desigualdades. Quais são os principais apontamentos desses estudos?
Sobre as juventudes, identificamos que o país precisa tratar com urgência a oportunidade representada pelo “bônus demográfico”. Hoje, 24% da população brasileira é composta por jovens, em sua maioria pretos e pardos. No entanto, a taxa de desocupação nessa faixa etária está muito acima das demais, e apenas 14% dos jovens estão simultaneamente estudando e trabalhando. Esse desafio exige uma governança integrada entre empresas, governos e sociedade civil, promovendo formação profissional, orientação de carreiras e foco em setores de alta produtividade.
Na agenda ambiental, a Arymax, junto a outros parceiros, lançou o estudo “Inclusão Produtiva e Transição para a Sustentabilidade: Oportunidades para o Brasil”. O estudo analisa setores estratégicos como sistemas alimentares, indústria, energia, cidades e infraestrutura, destacando que uma transição justa para uma economia mais sustentável, precisa considerar ocupações, qualidade de emprego e inclusão de micro e pequenas empresas, que são grandes empregadoras do país. Tanto na agenda de juventudes quanto na ambiental, é essencial buscar um novo modelo de desenvolvimento, integrativo e sustentável, que envolva as populações vulnerabilizadas, o que mostra como o tema de inclusão produtiva é transversal a muitas agendas de avanço do país.
- Entre as parcerias que vocês desenvolvem, está a Aliança Empreendedora, sobretudo no programa Empreender 360. Quais os objetivos dessa colaboração?
A Arymax, em parceria com a Aliança Empreendedora, está focada em estratégias de fortalecimento do ecossistema voltado às políticas para microempreendedores. O objetivo é ampliar a participação de organizações e microempreendedores nos espaços de decisão do Poder Público Federal, além de fortalecer a capacidade de influenciar o debate público em torno de seguridade social (conjunto de políticas que visam garantir direitos básicos, como saúde, previdência e assistência social) e boas condições para empreender.
Essa colaboração valoriza a escuta ativa e a sistematização das vozes do ecossistema, gerando ações concretas de incidência e engajando diferentes atores na construção conjunta de estratégias.
- O microempreendedorismo é um dos caminhos para a inclusão produtiva. Nesse cenário, que resultados dessa atuação conjunta você pode destacar?
Uma necessidade recorrente identificada em nossos estudos é a integração entre esforços dos diferentes setores. A parceria com a Aliança Empreendedora tem promovido a convergência de agendas em diversos ministérios e com o Poder Legislativo, consolidando uma agenda transformadora.
Destaco a aproximação com tomadores de decisão na área de Assistência Social como um dos pontos mais relevantes. Esse alinhamento é fundamental para transformar a vida de quem busca dignidade por meio do empreendedorismo.
- Em 2024, a Arymax foi uma das patrocinadoras do 6º Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo, realizado pela Aliança. Quais os principais temas discutidos e que rumos esses debates apontam?
O 6º Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo seguiu focando em formas de impulsionar o empreendedorismo de base no Brasil, com atenção especial às populações vulneráveis. Entre os temas abordados estiveram a desburocratização do acesso ao crédito, formalização e inclusão produtiva, empreendedorismo feminino, moda justa e sustentável, e juventude e empreendedorismo.
Um diferencial foi o protagonismo dado às empreendedoras e os espaços de interação com representantes do governo, permitindo que as demandas das bases fossem ouvidas. Esses debates indicam a necessidade de políticas públicas mais inclusivas e alinhadas às realidades locais, com potencial para fortalecer o ecossistema de microempreendedores e promover desenvolvimento justo e sustentável.
Entre os destaques, está a discussão sobre o Rotas Negras, programa do Governo Federal que visa fortalecer a cadeia do turismo e gerar emprego e renda por meio da valorização da cultura afro-brasileira.
- Quais são as perspectivas para a continuidade dessa parceria? Há planos ou metas futuras que possa compartilhar?
Em 2025, a Fundação Arymax continuará sua parceria com a Aliança Empreendedora, acompanhando os desdobramentos de debates nas interseções entre empreendedorismo e assistência social. Além das iniciativas que incluem as Políticas Nacionais de Microfinanças, Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino e o Pacto pelas Juventudes, visando sempre criar condições para que microempreendedores possam atuar de forma digna e sustentável.