Em 2024 o programa certificou mais de 260 empreendedoras impactando diretamente 2.452 pessoas com conteúdos exclusivos e destinou mais de R$ 46 mil em investimentos diretos para microempreendedoras
Cursos presenciais e online, cineclubes, mentorias, evento de lançamento de uma pesquisa nacional e muito mais. Essas foram algumas das ações realizadas pelo Programa Moda Justa Sustentável em 2024, para apoiar mulheres imigrantes e brasileiras no desenvolvimento de suas oficinas e ateliês de costura. O Programa é uma iniciativa da Aliança Empreendedora e conta com o apoio de uma coalizão de parceiros, formada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), Instituto C&A, Instituto Lojas Renner e Instituto SYN.
Ao todo, foram 269 mulheres beneficiadas e mais de 2.400 alcançadas pelo programa. O destaque fica para os cursos Tecendo Sonhos e Costura Além da Agulha, que capacitaram as mulheres por meio de metodologias aprofundadas e customizadas.
Cristina Filizzola, uma das coordenadoras do Programa e Presidente da Aliança Empreendedora, destaca a importância de apoiar e fortalecer o empreendedorismo feminino, especialmente em contextos de desafios sociais e econômicos como os vivenciados na cadeia da moda. “Um estudo do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS) sobre gênero e condições de trabalho na indústria da moda, mostrou que o setor é um dos mais fortes na economia nacional, sendo o Brasil a quinta maior indústria têxtil do mundo e responsável por mais de 16% dos empregos gerados, utilizando de forma muito significativa a mão de obra de mulheres. Isso sem falar dos pequenos negócios de costura que ainda vivem na informalidade e sem nenhum apoio para seu desenvolvimento. E é por isso, que há dois anos estamos focando todas as ações do programa para fortalecer mulheres que vivem e sustentam suas famílias através da costura, pois acreditamos em seu potencial para transformar a realidade de suas famílias e comunidades”, comenta.
Frentes de atuação
O curso Tecendo Sonhos foi realizado de forma presencial na sede do Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), em São Paulo, com uma formação focada no desenvolvimento de habilidades práticas e empreendedoras e trabalho dignos para mulheres imigrantes latino-americanas que possuem oficinas de costura. Já o Costura Além da Agulha conectou participantes de todas as regiões do Brasil por meio de uma plataforma ao vivo e online.
Ambos os projetos contaram com duas capacitações em formato de Cineclube abertos ao público e uma mentoria exclusiva para as turmas de 2023, enriquecendo a experiência das participantes com troca de conhecimentos e apoio contínuo por meio da formação de rede. Além disso, o programa promoveu um evento online para o lançamento dos resultados de uma pesquisa nacional, que buscou entender a realidade das costureiras autônomas de reparo de roupas.
A consultora de projetos e facilitadora dos cursos na Aliança Empreendedora, Marina Bolibio, conta que o Programa a fez refletir sobre a resiliência que mulheres, e imigrantes, precisam exercer para empreender. “Não é fácil ser mulher e empreender no Brasil. É preciso ser forte, insistir e desempenhar muitos papéis, muitas vezes sem apoio. As empreendedoras imigrantes enfrentam ainda mais barreiras, desde o idioma até a legislação. Nos projetos Tecendo Sonhos e Costura Além da Agulha, tive o privilégio de acompanhar de perto a dedicação dessas mulheres em se capacitar para construir um mercado mais justo e equitativo através da colaboração e do compartilhamento de experiências e aprendizados. Não é simples empreender, mas unidas em rede aprendemos e ensinamos que é possível”, reforça.
Em 2024, os investimentos financeiros diretos nos negócios apoiados chegaram à marca de R$ 34 mil reais. Isso porque todas as empreendedoras certificadas nos cursos receberam uma ajuda de custo no valor de R$ 200,00 e cada turma contou com três empreendedoras destaque, que somaram mais R$ 1.000,00 cada uma para potencializar o investimento no negócio.
As empreendedoras destaques no curso do Tecendo Sonhos também foram presenteadas com kits contendo máquinas industriais retas, sendo que todas as certificadas pelo curso receberam um kit com extintores de incêndio, linhas de máquina industrial e tesouras — materiais adquiridos pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS) com recursos oriundos de destinação do Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio da Procuradoria Regional do Trabalho em São Paulo (PRT da 2ª Região).
Selo de Direitos Humanos e Diversidade
Em 2024, pela terceira vez, o Tecendo Sonhos recebeu o Selo de Direitos Humanos e Diversidade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. A premiação, que acontece anualmente, reconhece iniciativas que promovem a inclusão, a diversidade e os direitos humanos. Nesta 7ª edição, o Selo registrou um número recorde de 438 inscrições, das quais 235 iniciativas foram reconhecidas. O reconhecimento reforça o compromisso do programa com a promoção de trabalho digno e oportunidades para mulheres imigrantes no setor da moda.
Parcerias estratégicas
Além da parceria com o CAMI e UNOPS, outras alianças estratégicas foram fundamentais para fortalecer o apoio às empreendedoras e consolidar o Programa como referência em impacto socioambiental na moda.
Uma delas é com a START by WGSN, que oferece conteúdos exclusivos sobre tendências, desenhos técnicos, relatórios e aulas com experts do mercado. Essa colaboração possibilitou o acesso gratuito de 10 empreendedoras à plataforma da marca por seis meses, marcando o início de uma parceria duradoura.
Outro exemplo é a parceria com o Instituto Focus Têxtil, que, com o apoio do Instituto Lojas Renner, convidou as empreendedoras apoiadas pelos projetos para exporem seus produtos e serviços, além de fazerem networking no Hub de Soluções do Focus Fashion Summit, evento realizado em São Paulo no início de novembro.
Graças à parceria com o Criável, pilar social do estúdio criativo da Renata Abranchs Branding, o programa ganhará, ainda em 2024, uma identidade visual, fortalecendo o posicionamento da marca e sua capilaridade na cadeia da moda.
Outras parcerias foram renovadas ao longo do ano, como a com A Voz da Costura, marca do Instituto Diana Demarchi que cedeu espaço para a divulgação dos resultados da pesquisa nacional e outras ações do programa, e com a Têxtil Betilha, que, pelo segundo ano consecutivo, abriu suas portas para a visita técnica da turma do Tecendo Sonhos.
A cocoordenadora do Programa na Aliança Empreendedora, Cristina Chiarastello, enfatiza o papel dessas parcerias de expandir as oportunidades para as empreendedoras apoiadas pelo programa. “Para além das capacitações, o programa Moda Justa Sustentável busca criar e potencializar conexões positivas, sempre com o intuito de fortalecer e ampliar as oportunidades para estas empreendedoras e seus negócios dentro deste ecossistema”, destaca.
Avaliação de impacto
Para mapear os impactos qualitativos dos projetos, o programa adotou a metodologia Most Significant Change (MSC), utilizada por organizações dediversos países. Essa abordagem permite a coleta de histórias significativas que representam as mudanças, positivas ou não, mais impactantes vivenciadas pelos participantes.
Foram realizadas entrevistas com dez empreendedoras, que compartilharam relatos sobre mudanças significativas em diversos aspectos de suas vidas e negócios. Os temas citados incluíram confiança e autonomia, valorização pessoal e profissional, fortalecimento da rede de apoio, visão empreendedora, precificação e formalização dos negócios.
Este é o caso da Eliana de Castro Afonso Zuca, participante do Costura Além da Agulha: “No começo, eu tinha algumas ferramentas na minha mão. Eu acredito que tenho o dom de produzir algumas coisas, de fazer, mas não tinha a ferramenta de crescer, de mostrar isso para os outros. E agora, a grande diferença é que, a partir desse conhecimento, tenho mais vontade de buscar novos aprendizados para mostrar o que eu faço”, conta.
Assim como Eliana, Arody Carmen Vargas Poma, do Tecendo Sonhos, também viu mudanças significativas após a capacitação. Apesar dos desafios, ela destaca a importância do aprendizado sobre segurança e organização no ambiente de trabalho: “Aprendi como acomodar as máquinas de um lado certo, a luz que tem que estar adequada. O extintor que foi doado foi muito bom porque é mesmo necessário e alguma coisa sempre pode acontecer. Essa está sendo a mudança difícil porque não estou conseguindo fazer 100% das coisas que foram ensinadas, mas, aos poucos, eu estou me programando. Sei como tem que ser e, se conseguir uma pessoa para trabalhar comigo, preciso dar essa estrutura para que também tenha um trabalho digno”, comenta.
Já Maressa Marinho Nunes, também participante do Costura Além da Agulha, enfatiza a relevância prática das lições para o gerenciamento de um ateliê: “De tudo que foi dado no curso, o que eu tirei de mais relevante para o meu negócio foi a organização do tempo. Como trabalho sozinha, tenho que me dividir em vários profissionais, então essa divisão de tarefas nos orientada no curso me ajudou bastante a tirar um tempo para fazer a divulgação e outro para a mão de obra em si. Outros pontos também valeram muito: a precificação, a publicidade, e como precisamos ser profissionais mais completas e desenvolver outras aptidões. O curso foi maravilhoso nesse sentido, voltado mesmo para gerenciar um ateliê ou loja de costura. Nos foram apresentadas ferramentas essenciais para trabalhar”, diz.
Para Cristina Filizzola, os depoimentos reforçam os resultados concretos das ações e o impacto transformador na vida das empreendedoras. “A Avaliação de impacto nos mostrou que estamos no caminho certo, pois muitas delas não se reconheciam nem como empreendedoras, sem nenhum tipo de apoio customizado para suas necessidades e trabalhando de forma muito isolada e precarizada. A pesquisa que realizamos em 2023 mostrou a importância da valorização, de acessarem conteúdos de qualidade potencializando diretamente no desenvolvimento de seus negócios e passaram a ter apoio de outras costureiras por meio de uma rede de apoio criada pelo programa”, completa.
Perspectivas para o futuro
Em 2025, as ações do programa serão ampliadas, com a inclusão de novos projetos para fortalecer ainda mais o apoio às empreendedoras do setor.
“Para 2025, o programa Moda Justa Sustentável continuará sua estratégia de impactar positivamente a vida das participantes e, consequentemente, da cadeia têxtil, sempre visando contribuir para um ambiente mais inclusivo e de relações dignas. Continuaremos atuando nos pilares de capacitações, formação de redes, pesquisa e advocacy, assim como acesso a mercado”, ressalta Chiarastello.
Conheça aqui mais sobre o Programa Moda Just Sustentável.
Foto: Camila Picolo | Lojas Renner S.A