Em um cenário desafiador no combate à desigualdade social, a inclusão e apoio ao microempreendedorismo se destacam como pilares cruciais para impulsionar o desenvolvimento econômico brasileiro, no estímulo a geração de renda e ao desenvolvimento humano local. O estudo Todos Podem Empreender publicado em 2022 pelo Programa Empreender 360 demonstra que se bem assistidos e estimulados, 25 milhões de microempreendedores podem se desenvolver, se formalizar e contribuir para um aumento de até 8% no PIB Nacional.
Aliado a esse potencial econômico é observado um movimento de transformações digitais, sociais e de mercado, com empresas e organizações apoiando a pauta do empreendedorismo compreendendo sua conexão com estratégias e valores do negócio. “A pauta da inclusão produtiva ganhou uma força muito grande, não só no governo, mas também nas empresas, de uma forma mais estratégica. Indo além das linhas de investimentos social privado, mas também como uma linha mais importante e mais estratégica nos pilares S do ESG”, destaca Lina Useche Jaramillo, cofundadora e head de relações institucionais da Aliança Empreendedora.
Uma pesquisa do Sebrae mostra que hoje os pequenos negócios representam 95% das empresas brasileiras, 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Os dados mostram que aumentar o grau de instrução por meio de capacitação e aprendizados permite aos microempreendedores um aumento de renda e mercado dos seus negócios.
Nesse contexto organizações do ecossistema, entre elas a Aliança Empreendedora, tem desenvolvido de forma continuada soluções inovadoras no apoio aos pequenos negócios e suas lideranças. Conheça algumas tendências promissoras para 2024 fortalecimentos desse público que está em vulnerabilidade, compreendendo seu potencial de escala e desenvolvimento econômico do Brasil.
Capacitação com metodologia adaptada
Metodologia significa um conjunto de métodos, práticas e processos sistemáticos utilizados para conduzir pesquisas, projetos ou atividades. Quando se fala disso dentro de um contexto de ensino, podemos nos referir ao método, ferramentas e conteúdo que são contemplados em uma capacitação.
No apoio ao empreendedorismo, o repasse de conhecimento adequado e gratuito sobre temas relacionados a gestão e desenvolvimento pessoal de quem está empreendendo, contribui diretamente para a inclusão dos pequenos negócios. “O acesso a conhecimentos inspira e potencializa pessoas no desenvolvimento de seus negócios assim como de suas histórias. Com o reconhecimento de suas capacidades empreendedoras, temos observado que essas pessoas buscam também a concretização de novos sonhos, com um aumento significativo em sua autoestima e qualidade de vida”, detalha Verônica Maia, líder de projetos da Aliança Empreendedora.
A Avaliação de Impacto publicada pela Aliança Empreendedora em 2023 demonstra que 80% dos empreendedores beneficiados consideram que participar das capacitações da organização contribuiu totalmente para sua autopercepção empreendedora; sendo que 53% das pessoas que não tinham um negócio começaram a empreender depois de participar de um projeto.
Uma tendência que tem reforçado a necessidade contínua de investimento e projetos que desenvolvam capacitações para empreendedoras, com metodologias adaptadas à sua realidade e as mudanças sociais e econômicas vistas no mundo, que acontecem em ciclos cada vez mais curtos.
Sendo uma das suas principais frentes de atuação, as capacitações desenvolvidas pela organização combinam diagnóstico, pesquisa e desenvolvimento adaptado as necessidades dos empreendedores, levando em conta bases filosóficas, e métodos inovadores no repasse de conhecimento, como a facilitação e dinâmica de grupos.
“Uma das nossas principais preocupações é garantir um conteúdo que faça sentido para microempreendedoras ou quem deseja empreender, e que se encontra em situação de vulnerabilidade. Para nós é fundamental construir uma relação de confiança e identificação nesse repasse de conhecimento, e que seja possível para essas pessoas, testarem e aplicarem as ferramentas em seu dia a dia, a partir dos recursos que já possuem”, explica Verônica sobre as premissas no desenvolvimento metodológico da organização.
Personalização para públicos diversos
Neste mesmo movimento de adaptação, tem se observado a necessidade de justar projetos e capacitações considerando diferentes recortes de públicos-alvo que empreendem.
Ao levar em conta a diversidade dos empreendedores como informações demográficas, ou ainda sobre o setor e área de atuação, organizações conseguem personalizar soluções e produtos que contemplem “dores” e desafios enfrentados em cada um dos recortes.
“São muitas especificidades. Temos desenvolvido cada vez mais projetos que consideram recortes de públicos empreendedores, combinando assim suas necessidades sociais e econômicos, com a proposta de valor e impacto social de empresas e organizações. Isso é muito interessante pensando em oportunidades que buscam a inclusão de grupos mais sensíveis social e economicamente, como mulheres, mães solos, pessoas negras e indígenas, pessoas com baixa escolaridade, e que precisam acessar oportunidades que reconheçam os desafios de suas vivências, e a sua realidade ao empreender”, explica Rebeca D’Almeida de Souza, coordenadora de parcerias e oportunidades de impacto da Aliança Empreendedora.
Um exemplo disso é o projeto Tamo Junta, uma parceria com a J. P. Morgan, focado na capacitação e apoio de mulheres negras empreendedoras em São Paulo. Já o projeto Meu Negócio é o Meu País, realizado com Kuat, aconteceu nas cidades de Salvador-BA e Aracaju-PE, com o intuito de identificar e acelerar histórias inspiradoras de mulheres empreendedoras da área da gastronomia regional.
Como detalhado por Rebeca, cada um dos projetos criados exige qualificação de conteúdo, estratégia e método adequado a seu público. “No Tamo Junta por exemplo criamos uma metodologia considerando os desafios específicos que as mulheres negras enfrentam ao empreender, garantindo inclusive conteúdos voltados à saúde mental. Já no projeto Meu Negócio é Meu País, foram desenhadas estratégias que acelerassem negócios da área da alimentação e liderados por mulheres, considerando benefícios e conteúdos compatíveis com os desafios do setor”.
Letramento digital no empreendedorismo
Nos últimos anos a transformação tecnológica entrou em ritmo de contínua expansão, integrando hoje o dia a dia dos microempreendedores. O lançamento de IAs (Inteligências Artificiais) e soluções digitais se popularizou como ferramentas presentes na vida das pessoas: Chat GPT, bancos digitais, PIX, redes sociais, aplicativos de gestão, entre tantas outras ferramentas, passaram a ser acessadas com mais frequência pelos microempreendedores.
Helena Casanovas Vieira, cofundadora e líder de projetos do Tamo Junto, da Aliança Empreendedora, ressalta que apesar da rápida evolução digital é preciso considerar as dificuldades de acesso. “Essa aceleração digital infelizmente não é acompanhada pela democratização no acesso à conhecimento adequado, tecnologia, e a própria navegação na internet. Dentro de um recorte de públicos vulneráveis, as limitações são ainda maiores considerando uma estrutura social ainda excludente e discriminatória”.
Interpretando esses desafios, e considerando que muitas de suas soluções para o apoio ao empreendedor são digitais, a Aliança Empreendedora passou por um intenso processo de evolução tecnológica.
“Por um lado, buscamos compreender a necessidade de letramento digital dos microempreendedores que queremos apoiar, e paralelo a isso, investimos diretamente em novas tecnologias. Essas estratégias nos mostraram o quão fundamental seria integrar jornadas de apoio, e estimular a construção de conteúdo e conhecimento que favoreça o letramento e a inclusão digital deste público”, explica Helena.
Dentro dessas mudanças, a organização revisou suas principais metodologias de capacitação para incluir aspectos de letramento digital, inclusão e diversidade. E deu continuidade na criação de uma nova estrutura de tecnologia, considerando time especializado, gestão e processamento de dados, performance de plataformas e jornada qualificada para o microempreendedor apoiado, que acessa as soluções oferecidas pela Aliança Empreendedora, como o Tamo Junto, o Guru de Negócios, programas de voluntariado, entre outros.
Combinar soluções para o microempreendedor
Conectar oportunidades e redes que potencializam ofertas do ecossistema de apoio ao empreendedor é uma grande tendência para 2024, entendendo que cada organização e liderança possui uma rede única em potencial.
Além da capacitação em si é importante identificar outras oportunidades de desenvolvimento que as organizações podem conectar ao empreendedor apoiado: mentorias com voluntariado corporativo, investimento no negócio, consultorias personalizadas, acesso a redes estratégicas, benefícios em serviços como descontos e gratuidades específicas.
“É importante identificar e combinar diferentes soluções que irão impactar a vida dessas pessoas, que empreendem e estão em situação de vulnerabilidade. Por meio de conexões estratégicas e colaboração, esse ecossistema de apoio ao empreendedorismo pode fortalecer essa jornada em diferentes pontos”, ressalta Rebeca.
Incidência em políticas públicas
A rede de apoio ao empreendedorismo se conecta diretamente com a rede governamental, considerando regulamentação, serviços e oportunidades de desenvolvimento. Nos últimos anos a incidência em políticas públicas que fortaleçam o microempreendedorismo, ou pessoas que empreendem e não são formalizadas, tem se mostrado uma estratégia potente para alcançar as pessoas que mais precisam.
É neste contexto que o Programa Empreender 360, da Aliança Empreendedora, tem desenvolvido uma série de articulações com o Legislativo e o Executivo do Governo Federal para tornar o empreendedorismo mais acessível, justo e inclusivo no Brasil.
Com o apoio de parceiros estratégicos como o Bank of America, Fundação Arymax, Assaí Atacadista e Meta, o programa se prepara para em 2024 influenciar mais políticas públicas e fortalecer o suporte à base empreendedora. Nesse sentido, já está confirmada a sexta edição do Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo, que acontece novamente em Brasília.
No ano passado, o evento reuniu cerca de 300 pessoas entre líderes de institutos, fundações, empresas e organizações sociais, autoridades do Governo Federal, gestores de Governos Estaduais e Municipais, e micro e pequenos empreendedores. Em 2024, o Fórum deve acontecer ainda no primeiro semestre. Data e local serão divulgados em breve, no site do E360 e redes sociais da Aliança Empreendedora.
Ainda para 2024 será lançado um estudo sobre a política de Assistência Social no Brasil, refletindo sobre como beneficiados das políticas do Cadastro Único, entre eles o Bolsa Família, se relacionam com o empreendedorismo de base. O estudo irá contemplar informações sobre a proteção e visibilidade dos trabalhadores informais, autônomos e MEIs (Microempreendedores Individuais), além de sugestões para uma maior articulação das políticas voltadas ao mundo do trabalho com a Assistência Social.