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A força e a potência do empreendedorismo nas periferias brasileiras são reconhecidas hoje como motores para o desenvolvimento de soluções criativas e inovadoras. Essas soluções, criadas por quem vive os problemas no dia a dia, florescem nos territórios e ajudam a dinamizar as economias locais, proporcionam geração de renda e ainda levam produtos e serviços necessários às comunidades.

Exemplos de empreendimentos bem-sucedidos não faltam. Mas quantificar o número de empreendimentos que surge nas periferias e o seu impacto nos territórios ainda é uma tarefa complexa, porque muitos deles operam na informalidade. Se nos atermos aos empreendimentos formalizados, dados do Sebrae apontam para o aumento do número de Microempreendedores Individuais, os chamados MEIs, em escala crescente nos últimos anos: em 2017 o número alcançou 7,7 milhões.

Dentre os microempreendedores, é grande o número de jovens que começam negócios. Dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor de 2016 apontam que no Brasil há maior intensidade empreendedora entre jovens de 18 a 34 anos.

Em se tratando de empreendimentos surgidos nas periferias, alguns gargalos são conhecidos, em especial dois deles: acesso a crédito e formação. Há também o fator disponibilidade de tempo, já que boa parte desses negócios são iniciados por necessidade.

Hoje, percebe-se que o acesso a tecnologias que ajudem na incubação e aceleração desses negócios tem se mostrado um ponto tão importante quanto a disponibilidade de recursos financeiros para que eles se estruturem melhor e tenham mais sustentabilidade. Iniciativas voltadas a dar esse suporte surgem cada vez mais, atendendo a essa demanda crescente, propostas por arranjos diversos que incluem, por exemplo, a Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip) – iniciativa da produtora A Banca em parceria com a Artemisia e a FGV – e o programa Vai Tec, que recentemente ampliou seu modo de atuação no sentido de incluir maior acompanhamento dos negócios, e que pode ser considerado uma política pública de incentivo a esse desenvolvimento.

 

Ampliando o suporte

Desenvolvido pela Agência São Paulo de Desenvolvimento (ADESAMPA) em parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho e Empreendedorismo e a Fundação Telefônica Vivo, o Vai Tec vem apoiando financeiramente, por meio de subsídio, atividades inovadoras que contribuem para o desenvolvimento econômico e social e que sejam relevantes para políticas públicas municipais, priorizando projetos ligados à tecnologia da informação e da comunicação e aqueles desenvolvidos por jovens de baixa renda.

Se em edições anteriores o Vai Tec selecionava e apoiava empreendimentos apenas via recurso financeiro, sem oferecer outro tipo de suporte como capacitação técnica, em sua terceira edição promoveu mudanças significativas nesse aspecto.

O programa agora se organiza em duas frentes. A primeira promove oficinas de ideação e validação para quem quer transformar ideias em planos de negócio e também validar e testar em seus empreendimentos. E a segunda é a Aceleração Vai Tec, que apoia os empreendimentos inovadores das periferias.

Uma parceria entre Aliança Empreendedora, ADESAMPA e a Fundação Telefônica está proporcionando a cocriação de uma nova metodologia para o Vai Tec com a participação de mais duas organizações: a Sense Lab e a Ideias de Futuro, que foram selecionadas por edital para realizarem as oficinas de ideação e validação.

Para Guilherme Ralish, Gerente de Programas e Projetos da ADESAMPA, a criação de negócios inovadores nas periferias é inovadora, nunca foi feita em grande escala, e a multiplicidade de visões, conhecimentos e experiências de organizações que já trabalham com empreendedorismo e periferia é fundamental para o sucesso do programa.

Na nova metodologia desenvolvida, os jovens passarão por dois encontros de ideação, cada um com seis horas de duração, e pelo processo de validação, um pouco mais longo – quatro encontros de seis horas.

“O processo vem ao encontro desses jovens para que testem sua ideia, para trazer conceitos do mundo digital e desmistificar um pouco o que é inovação. E mostrar que talvez ele já transforme o que faz, que hoje é chamado de gambiarra, em uma tecnologia social. O programa tem muito esse objetivo de dar ferramentas e sistematizar conteúdo para esses jovens desprivilegiados economicamente nas periferias, para estimular a construção de modelos de negócio sustentáveis e inovadores”, diz Regina Pfiffner coordenadora de projetos da Aliança Empreendedora.

A primeira atividade do grupo envolvido com a criação dessa metodologia para o Vai Tec aconteceu nos dias 16 e 17 de agosto, e o desafio foi justamente iniciar a sistematização de ferramentas e práticas para que os jovens selecionados pelo programa possam transformar ideias inovadoras em negócios sustentáveis. A Aliança Empreendedora fará também o acompanhamento presencial dos parceiros locais, monitoramento, análise de resultados e proposta de continuidade.

“Esse é um programa muito desafiante, em que a gente conta mesmo com o apoio dessas organizações que vão aplicar essa metodologia que está sendo construída. A nossa parceria finda em janeiro. É um projeto bem curtinho, e parte de uma premissa importante que é trabalhar com a realidade desses jovens de periferia, que não têm tempo, mas necessidades do ontem. Vamos ajudá-los a identificar esses negócios, e a transformar a tal da “sevirologia” em tecnologia social”, avalia Regina.

Essa terceira edição do Vai Tec selecionou 24 negócios inovadores de jovens nas periferias de São Paulo que utilizam a tecnologia como modelo de negócio para torná-los mais sustentáveis. Eles participam de um programa intensivo de seis meses, de setembro de 2018 a março de 2019, com oficinas, mentoria e acompanhamento, além de receberem um aporte de R$ 32 mil cada um.

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