A trajetória empreendedora de Andreia Souza é marcada por coragem, criatividade e reinvenção. Nascida em São Paulo e morando há mais de duas décadas em Natal (RN), ela sempre buscou alternativas para garantir sustento e autonomia. Mãe solo, gestora cultural, roteirista, escritora e atriz, Andreia articula diferentes saberes e vivências. Há alguns anos, criou a Valentes, uma rede de empreendedorismo colaborativo voltada majoritariamente a mulheres negras e periféricas, mães solo e outras pessoas historicamente marginalizadas.
Em meio à pandemia de Covid-19, Andreia reuniu mães em um grupo de WhatsApp para que seus filhos pudessem interagir virtualmente. A ação evoluiu para um dos movimentos mais marcantes da sua vida: “Enquanto as crianças conversavam, a gente começou a se ajudar, trocar alimentos, desabafar, criar vínculos reais. Era um acolhimento necessário”, lembra. A virada aconteceu em 2022, quando o grupo conquistou um espaço temporário em um dos principais shoppings de Natal, durante as comemorações pelo Mês da Mulher.
A loja pop-up da Valentes foi mais do que um ponto de venda: tornou-se símbolo de ocupação e valorização de mulheres invisibilizadas. “Estávamos ali, com uma instalação instagramável, entre marcas de grife. Aquilo foi nosso tapete de ouro”, emociona-se Andreia. Prevista para durar 15 dias, a loja ficou aberta por um mês e se transformou em um case de sucesso. Com a experiência positiva, a Valentes cresceu: estruturou ações em outros estados e consolidou seu modelo de atuação, sempre com foco no coletivo.
Atualmente, são mais de 200 empreendedores parceiros no Brasil, em áreas como arte, moda, gastronomia, beleza, arquitetura e inovação. O grupo, composto majoritariamente por mulheres, funciona como um hub de negócios afrocentrado. “Nossa principal missão é levar as empreendedoras a eventos para que elas façam conexões e comercializem produtos e serviços”, conta Andreia. Ela também desenvolve o braço ValenteZ, voltado à geração Z, e busca fortalecer o acesso de pessoas negras e periféricas ao universo da tecnologia.
Aprendizados, conexões e impacto social
Esse movimento de estruturação ganhou ainda mais força em 2024, com a participação de Andreia no projeto No Corre Digital, promovido pela Aliança Empreendedora em parceria com a CUFA e a Mastercard. A iniciativa gratuita capacitou microempreendedores para aplicarem estratégias digitais em seus negócios, com aulas práticas e conteúdos especializados. Para Andreia, a experiência foi transformadora.
“Eu sabia o que estava fazendo, mas não sabia onde me encaixava”. Com o apoio do projeto, a empreendedora se reconheceu no “setor 2,5” — negócios que unem fins lucrativos e impacto social. Isso ajudou a dar forma e rumo à Valentes. Ela também destaca a didática acessível das aulas, com aprendizados que conseguiu aplicar no cotidiano da rede. E ressaltou que o encontro presencial foi a “cereja do bolo”, já que proporcionou trocas reais, construção de vínculos e novas parcerias.
Além do conhecimento técnico, o programa gerou conexões importantes, que resultaram em apoio para desenvolver ideias como a plataforma digital IAE (Inteligência Ancestral Estratégica). “A ideia é construir pontes entre os territórios e valorizar o que já fazemos com excelência, mas que muitas vezes é subestimado”, explica. Para ela, participar do projeto No Corre Digital significou uma prova de que seu negócio é valioso: “Encontrar pessoas que pensam diferente, assim como eu, traz esperança e faz a gente acreditar.”