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Durante sua participação na edição deste ano do Aspen Ideas Festival, Lina Useche apontou cultura, ambiente regulatório e desigualdade de gênero como os principais entraves do setor.

Menos de 1% da assistência ao desenvolvimento no mundo destina-se a apoiar o empreendedorismo, a despeito de seu potencial para abordar cada um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Há uma tendência conservadora nos investimentos e na filantropia promovidos por líderes do setor privado nos países emergentes, o que coloca na ordem do dia refletir sobre caminhos que podem alavancar o potencial do empreendedorismo para a resolução dos principais desafios globais.

Para debater essa perspectiva, o painel “Promoting entrepreneurship for global growth” (Promovendo o empreendedorismo para o crescimento global), realizado no dia 29 de junho, reuniu especialistas, entre os quais Lina Useche, diretora executiva e cofundadora da Aliança Empreendedora.

A atividade foi uma das 250 sessões que integraram a programação da 15a edição do Aspen Ideas Festival, evento anual realizado em Aspen, nos Estados Unidos, que promove o encontro das principais lideranças de várias origens e áreas para discutir questões globais e sociais e ideias inovadoras. Durante os sete dias de evento (23 a 29 de junho), passaram pelo festival cerca de três mil participantes. Entre os 400 palestrantes, marcaram presença personalidades como Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, a economista Mariana Mazzucato, e Cecile Richards, ex-chefe da Planned Parenthood.


Principais desafios do empreendedorismo

Apesar de distinções e particularidades entre cada país ou região, o debate sobre as principais demandas do empreendedorismo pelo mundo se centra no tripé ‘educação, mentoria e recursos financeiros’.

Em relação ao Brasil, Lina problematizou a disponibilidade de capital e a falta de relacionamento entre quem oferece crédito ou financia o setor e os microempreendedores. Para a diretora, no entanto, a maior barreira ainda está na dificuldade da maioria dos empreendedores de se reconhecerem como tal.

“No Brasil, nós temos um enorme ecossistema de suporte, privado e público, com mentorias, capacitação e até capital para microcrédito. Por isso, trabalhamos muito para fazer com que essas pessoas se reconheçam como microempreendedoras e possam acessar esses recursos. Precisamos criar canais porque eles não virão até nós, mas nós temos que ir até eles.”

Quando perguntada sobre os entraves que envolvem a escala da ação empreendedora, Lina ressaltou o desafio do cenário brasileiro, país em que 82% dos microempreendimentos não geram emprego. Para a especialista, os motivos se relacionam com o ambiente regulatório desfavorável, a enorme burocracia do setor público e os altos impostos atrelados à contratação, além da falta de incentivos fiscais. “Tudo isso cria um clima de medo que faz com que esses empreendedores prefiram trabalhar informalmente junto a familiares e pessoas de sua confiança”, destacou.

Questão de gênero

Os desafios orientados pela desigualdade de gênero enfrentados por todos os setores da sociedade global também foram assunto do painel. Lina destacou como uma das grandes dificuldades nesse sentido as dimensões da violência vivida pelas mulheres brasileiras junto a seus parceiros, que, muitas vezes, além de não apoiá-las, as impedem de empreender, chegando ao ponto de destruir locações e equipamentos de trabalho.

“Há muitas situações em que mulheres são proibidas pelos maridos de frequentar os cursos, de receber educação e sofrem violência doméstica. Em contrapartida, quando essas mulheres se agrupam, elas se empoderam e, muitas vezes, conseguem sair dessa situação de abuso. Os próprios grupos de mulheres, quando se reconhecem como um coletivo, acabam provendo o suporte necessário para isso”, contou.


Tecnologia, escala e impacto

A diretora da AE contou que desde que começou a replicar sua metodologia, há dez anos, em parceria com organizações de apoio ao campo, saiu de mil para cinco mil empreendimentos apoiados por ano, nos últimos três anos. Atualmente, 134 organizações replicam a metodologia da organização.

“O papel da tecnologia também é muito importante. Fomos capazes de ampliar essa ação de fortalecimento nos últimos anos por meio da difusão da metodologia também online”, observou.

Lina partilhou ainda a ampla ação de mapeamento do ecossistema de apoio ao microempreendedor brasileiro realizado pela Aliança Empreendedora. Já são mais de duas mil organizações mapeadas.

“Foi aí que percebemos quão pequenas e desconectadas do ecossistema. Apesar de sua potente ação local e seu compromisso com o impacto, elas são invisíveis. Por isso, um dos nossos objetivos é fortalecer esse ecossistema porque essas organizações fazem toda diferença para o desenvolvimento do setor e, por isso, precisamos visibilizá-las.”

A íntegra da sessão está disponível em vídeo na página da atividade no site do evento e no canal do Aspen Institute no YouTube.

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