Artesanato de Mucambo é fonte de trabalho e renda, ao mesmo tempo que preserva a cultura local
Mucambo. A pequena Carqueijo, neste Município, a 280 quilômetros de Fortaleza, é tipo exportação. A tecelagem produzida pela comunidade de cerca de 40 famílias chegou a Cabo Verde, na África. Antes já tinha sido levada para São Paulo. O artesanato Carqueijo está em exposição permanente na Central de Artesanato do Ceará (Ceart), em Fortaleza, e no Centro de Artesanato Ana Sancho Martins, na própria Carqueijo.
A produção é feita pela Associação dos Artesãos de Carqueijo. Logo no selo dos produtos há um recado: “Este é um produto 100% artesanal”. E o recadinho dos artesãos de Carqueijo continua: “Ao adquirir uma peça de Carqueijo você valoriza o artesanato regional; resgata a dignidade e promove o desenvolvimento sustentável e ajuda a remuneração do artesão”. O selo da comunidade encerra afirmando: “Respeitamos e preservamos a natureza. Os produtos são feitos a partir de fibras naturais”. São dessas fibras naturais da bananeiras e do coqueiro que saem lindos jogos americanos, belos tapetes, baús, crochês e redes de varanda.
Já se preparando para a Copa 2014, com apoio do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae), aconteceu, em Carqueijo, cursos de tecelagem, de criação de novos produtos, crochê e varanda. Mais de 40 pessoas, entre jovens e adultos, fizeram os cursos. A Associação dos Artesãos de Carqueijo é a única entidade de artesanato da Zona Norte inscrita no Sebrae Oportunidades de Negócios 2014.
“Preparamos a comunidade para aumentar a mão-de-obra, qualificando e inovando nossos produtos. Este é o investimento do lucro com as vendas que fazemos para a Ceart”, diz o instrutor do curso, Francisco Martins Gilmar de Sousa, de 30 anos, filho de Carqueijo e vai seguindo a tradição iniciada pela avó Ana Sancho Martins, continuada pelo pai de Gilmar, Isaías Martins e agora por Gilmar.
Prejuízo
A Associação teve no começo deste ano um baque muito grande com um prejuízo de R$ 50 mil em vendas erradas. “Estamos superando. Pois, à princípio, ficamos preocupados com o desemprego de mais de 40 pessoas. Era a nossa morte. Mas procuramos vários órgãos de apoio e demos as mãos para levantar a Associação”, diz ele.
Gilmar fez a ressurreição da entidade, ganhando, em 24 de maio passado, o segundo lugar do Primeiro Prêmio Aliança de Empreendedores Comunitários, entregue na Federação das Indústrias do Estado do Paraná, em Curitiba. O Prêmio é patrocinado pela Itaipu Binacional e Instituto Camargo Correia. Eles observaram primeiro o empreendimento e o empreendedor para, depois, fiscalizar como o ganhador iria usar o prêmio. Com o dinheiro do prêmio, R$ 3 mil, investiu em matéria-prima para produção e atender à demanda da Ceart, de outros estados e do Exterior. “Aqui mantemos viva a cultura com a tradição do artesanato passando de geração em geração”.
Durante o evento de entrega da premiação, chamado de “Fazer para mudar – novas perspectivas para a responsabilidade social corporativa através do apoio ao empreendedorismo comunitário”, Gilmar foi comparado a um super herói de Carqueijo. A história de Gilmar é contada pela organização do Prêmio Aliança. “Ele transformou o trabalho de artesanato que era o sustento da sua família desde o tempo dos avós e bisavós em um negócio organizado e rentável. Depois, ele passou a ensinar o que sabia para gerar mais empregos na cidade onde mora e em seguida em todo o Ceará. Mais tarde, passou a fazer isso fora do Brasil, ministrando cursos em Cabo Verde, na África”.
Gilmar foi ao sítio do avô, pegou algumas palhas de bananeira e taliscas de coqueiro e pediu à mãe que colocasse aquilo no tear, de modo a criar um tipo de jogo americano. “Assim, foram feitas as minhas duas primeiras peças artesanais em fibras naturais, que meu pai, Isaías, levou para a Central de Artesanato do Ceará, a Ceart”. “Dali em diante as coisas foram acontecendo”, relata o Prêmio Aliança. “A primeira encomenda, de 300 peças, feitas de palha de bananeira e taliscas de coqueiro para entrega em 30 dias. Em seguida, ele começou a treinar artesãs para fabricar os produtos.
Multiplicação
40 pessoas, hoje, em Mucambo, produzem cerca de 25 modelos de jogos americanos e tapetes de fibras naturais. Esse trabalho foi multiplicado por Gilmar pelo Ceará e em mais de 15 cidades.
MAIS INFORMAÇÕES
Carqueijo Artesanato
Rua São Joaquim, s/n
Carqueijo – Mucambo, CEP 62175-000
Telefone: (88) 3654.4013
HERANÇA
Atividade passa dos pais para as novas gerações
Mucambo. O artesanato do Carqueijo começou a ganhar impulso com dona Ana Sancho Martins. Ela passou a arte da tecelagem para o filho Isaías Martins que chegou a dormir na rua, em Fortaleza, para vender as peças. Hoje, quem toca o projeto é o filho de seu Isaías, o Gilmar, do Carqueijo. Gilmar é hoje quem faz as peças e ensina a comunidade a fazer a tecelagem por meio das palhas de coqueiro e bananeira.
Seu Isaías lembra que o tapete foi o começo da Associação de Artesãos de Carqueijo. “Estamos respeitando as gerações iniciadas com minha mãe há mais de 80 anos. Hoje, evoluímos com o Gilmar, que é um empreendedor. Um curioso que faz a arte do Carqueijo ir mundo afora. Além disso, estamos dando emprego aqui, pois em São Paulo não tem mais. O Carqueijo está empregando aqui mesmo com qualificação profissional trazida pelo pessoal do Sebrae”, relata Isaías.
Começo
Ele cita que no começo se largou para Fortaleza por meio da Ceart para vender as peças produzidas em Carqueijo. Primeiro pegava os retalhos de uma fábrica de Sobral, que uma vez fui constrangido porque era doação e um dono proibiu de eu trazer para comunidade fazer os tapetes. Mas isso passou e hoje nossa arte é profissional e emprega nossa comunidade”, festeja Isaías.
O analista técnico do Sebrae-Sobral, Tomaz Machado, informou para os artesãos que a Associação deles é a primeira a entrar no projeto Sebrae Copa 2014 no Ceará. “Estamos preparando vocês para ganhar dinheiro com a Copa, pois uma loja de artesanato será montada pelo Sebrae em Fortaleza durante a Copa do Mundo de 2014”.
O gerente da agência do Banco do Brasil, de Mucambo, Ari Gomes, esteve na comunidade e concedeu uma máquina de cartão para compras dos turistas que assim podem pagar com cartão eletrônico.
LAURIBERTO BRAGA
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste