Senegalês questiona atuação de ONGs na África: Bernard Founou Tchuigoua disse, neste domingo, que os países africanos não precisam de caridade, mas sim de um plano para fortalecer as instituições e se industrializar.
Agencia Estado / Agência Brasil – 31/01/10
O senegalês Bernard Founou Tchuigoua, diretor de pesquisa do Fórum do Terceiro Mundo no Senegal, questionou hoje a atuação de organizações não governamentais (ONGs) nos países africanos, cuja ação, segundo ele, ajuda a impedir a formação de instituições de Estado. Segundo o ativista, países da África precisam mais de um plano de fortalecimento de instituições e de industrialização do que de caridade.
“Não queremos caridade, que consiste em criar uma clientela. A agenda internacional para a África ajuda a manter um estado de dependência”, criticou ele, ao participar do painel “Estratégias de Governança”, no Fórum Social Mundial Temático da Bahia, em Salvador.
Segundo Tchuigoua, as ONGs se especializaram em prover serviços básicos, que os governos locais não conseguem oferecer, mas que a ajuda humanitária apenas não basta, já que não reduz a desigualdade. “A sociedade é mais complexa que a visão deles”, disse.
Ele questionou ainda a eficácia do trabalho realizado pelas organizações não governamentais na África. Segundo Tchuigoua, essas ONGs visam a disponibilizar serviços básicos que os governos não são capazes de oferecer, mas elas desconhecem a complexidade das sociedades que atendem. Além disso, segundo ele, a caridade não faz sentido quando ela não consegue reduzir a desigualdade.
“A caridade tem o objetivo de criar apenas uma clientela. No plano internacional essa ajuda tem sentido apenas se ela visar a uma igualdade entre aqueles que ajudam e os que são ajudados. Manter esse estado de dependência não é interessante”, argumentou.
Ele defendeu que o continente seja alvo de uma nova espécie de Plano Marshall, iniciativa dos Estados Unidos que ajudou a recuperar a Europa após a Segunda Guerra Mundial, ações como as que ajudaram a Coreia do Sul a se tornar desenvolvida para combater o comunismo. “A África recebe muito pouco e dá muito, se contarmos o pagamento do serviço da dívida externa”, avaliou.
“Se nós pegarmos todas as condições que foram oferecidas para a industrialização desses países, percebemos que o que vem para a África é muito pouco”, afirmou Tchuigoua. A próxima edição do Fórum Social Mundial será realizada em Dacar, no Senegal, em 2011.