Todo Negócio é Social? Vamos descobrir… Agora mesmo você está na frente de um computador, conectado a internet, lendo um artigo sobre empreendedorismo e negócios sociais no site de um grande banco. Se voltarmos vinte anos atrás, como seria essa situação? Sua internet seria mais lenta e mais cara, provavelmente seu computador não seria um laptop e/ou custaria bem mais do que custa hoje e você não encontraria em um site de banco nada além da divulgação de seus produtos.
Agora pense, o provedor de internet, os fabricantes de computadores e o banco são negócios sociais? Mesmo que empresas como Casas Bahia e Positivo Informática ofereçam computadores a preços e formas de pagamento acessíveis a pessoas de classes C e D e que o próprio Santander oferece linhas de microcrédito para empreendedores de baixa renda, seus negócios não são vistos como negócios sociais. Por quê?
Voltamos a pergunta: Todo Negócio é Social? A resposta é sim e não.
“SIM” porque, se não fosse pelos empreendedores, comércio e negócios, além de computador barato e internet rápida, não teríamos (a não ser que fossemos ricos) acesso a remédios, carros, celulares, educação, alimentos, reciclagem, softwares, saneamento e inúmeros outros produtos e serviços que geram aumento de produtividade, qualidade e expectativa de vida.
Mas a resposta também é “NÃO” porque muitos dos negócios e tecnologias geram passivos sociais e ambientais enormes, atendem em sua maioria apenas o “topo” da pirâmide sócio econômica e geram/ampliam desigualdades sociais pelo seu modelo societário e de distribuição de lucros onde muitos trabalham para poucos receberem.
Por este motivo e por tentar acertar neste meio termo e interseção, os chamados Negócios Sociais ou Negócios Inclusivos vêm ganhando tanta atenção no mundo dos negócios e no setor social, ainda gerando muitas dúvidas e questionamentos em relação a sua viabilidade, modelo e impacto, assim como ao quanto estes negócios são ou não diferentes dos empreendimentos tradicionais.
Para contribuir com o debate e melhor identificar se um Negócio é Social ou não, sugiro olharmos para este negócio em termos de “Inclusão”, reformulando a pergunta para “Todo Negócio é Inclusivo?”. Para respondermos a esta pergunta ao analisarmos um negócio, sugiro pensarmos no que chamei de “Os 4 i’s de um Negócio Inclusivo”: Intenção, Interação, Inovação e o Impacto.
– Intenção – Qual é a motivação do empreendedor? Para que ele iniciou o negócio? Qual a missão / sentido de existir do empreendimento? O negócio e empreendedor visam atender a necessidades e gerar melhorias para a sociedade ou olham apenas para o lucro?
– Interação – Como e com quem ele interage com a sociedade? Ele atende apenas clientes de classes A, B e C ou inclui e tem foco em classes D e E? Como ele escuta e se relaciona com seus clientes, parceiros e fornecedores? Como seus produtos e serviços atendem às necessidades e situações concretas e reais de seu público alvo?
– Inovação – Como o negócio busca e investe para aprimorar e/ou criar novos produtos, serviços e processos de forma que possa promover e ampliar a inclusão de pessoas de baixa renda como clientes, parceiros, sócios e/ou fornecedores de seu empreendimento?
– Impacto – O negócio gera benefícios e melhorias reais e concretas a quem se propõe ou fica só na promessa e marketing? O negócio tem impacto social quantitativo e qualitativo diferenciados em relação a outros negócios tradicionais ou é apenas mais do mesmo?
Se o negócio tiver intenção clara de contribuir para a inclusão e melhoria da sociedade, interagir com respeito e de forma ativa, inovar em processos, produtos e serviços para gerar mais acesso e benefícios e entregar o que se propõe gerando impacto significativo para seu público alvo, trata-se de um bom exemplo de Negócio Inclusivo.
Caso o negócio não contemplar um ou mais dos “i’s” acima, lembre-se que mesmo assim ele é fundamental e, em sua maioria, gera grande benefícios para a sociedade como um todo.
Rodrigo Brito é co-fundador e diretor executivo da Aliança Empreendedora, organização que atua no apoio e inclusão econômica e social de microempreendedores de baixa renda no Brasil.