Nos preparativos para o plano nacional de combate à miséria, o governo detectou pelo menos 16,2 milhões de pessoas vivendo hoje em condições extremas de pobreza, o equivalente à população do Estado do Rio de Janeiro, o terceiro mais populoso do Brasil. A informação foi dada nesta terça-feira (3), quando o Ministério do Desenvolvimento Social estabeleceu o valor de R$ 70 per capita ao mês como referência para definir quem são os brasileiros mais carentes.
Por essa medida, a região Nordeste é a que conta com mais pessoas em extrema pobreza. São 18,1% da população, em comparação com os 8,5% nacionais. Em seguida aparecem o Norte (16,8), Centro-Oeste (4), Sudeste (3,4) e Sul (2,6).
Os números, baseados em dados do Censo 2010, ajudarão a formular o plano Brasil Sem Miséria, uma das principais bandeiras eleitorais da presidente Dilma Rousseff. Eles indicaram que 8,5% da população nacional contam com renda mensal até R$ 70 – quantia próxima a indicadores internacionais para aferir pobreza extrema, de acordo com a ministra Tereza Campello. Ela afirmou que essa população tem difícil acesso a serviços públicos apesar de ser foco de ações governamentais.
“Essa é a população mais vulnerável e, mesmo assim, os serviços públicos não estão chegando. Queremos que os serviços que já existem sirvam a essa população”, disse Campello, ao lado dos presidentes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Márcio Pochmann, e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Eduardo Nunes. “Pretendemos ir a essa população, não fazer um chamamento e dizer que os equipamentos do Estado estão lá.”
Conforme a linha de extrema pobreza anunciada nesta terça-feira, entre cada dez brasileiros um vive nas piores condições, incluindo aí beneficiários do programa Bolsa Família. O presidente do IPEA afirmou que essa informação ajudará a separar níveis de falta de recurso e focar melhor as políticas. “Não tínhamos na área social uma linha que estabelecesse parâmetros nem tínhamos metas para a área social. Essa linha de R$ 70 define”, disse.
Os dados obtidos pelo Censo, feito em meados do ano passado, são preliminares e podem ser ajustados mais adiante. A ministra do Desenvolvimento Social disse ainda que o valor de R$ 70 deve revisto no futuro de acordo com um índice ainda a ser definido.
Meta para 2016
O Ipea já divulgou estudos com previsão de fim da pobreza extrema no Brasil até 2016. Em seu discurso de posse, Dilma afirmou que acabar com a miséria será o foco de sua gestão, até 2014. O principal plano da área social do governo, a ser anunciado nos próximos dias, visará universalizar o acesso a programas de transferência de renda, ampliar e melhorar serviços públicos e capacitar mão-de-obra, com investimentos em saúde e educação.
De acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que nos próximos anos ajudará a ajustar os números da linha de pobreza extrema, com renda de até meio salário mínimo por mês, quase 25 milhões de brasileiros deixaram as condições mais carentes entre 1995 e 2008.
Fonte: Maurício Savarese, do UOL Notícias em Brasília.