Expansão do programa leva sonho da profissionalização para mulheres costureiras do Agreste Pernambucano
“Nós somos talentosas, o que a gente precisa é de oportunidades”, conta entusiasmada Maria Joseneide da Silva, participante do Tecendo Sonhos, em Caruaru (PE), um dos municípios que fazem parte do polo têxtil do Agreste Pernambucano.
Considerado o segundo maior do Brasil, é composto de 10 cidades, sendo Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru os principais produtores. Em média, 30% dos residentes na região estão em situação de pobreza ou extrema pobreza e mais de 134 mil pessoas eram beneficiárias do Programa Bolsa Família, em 2018. As taxas de informalidade variam entre 23% e 57,3%.
É neste cenário que o programa Tecendo Sonhos realizou uma série de atividades no ano de 2020, atendendo mulheres brasileiras que trabalham por conta própria e de forma precarizada na área da costura.
“O programa passou a atender não apenas imigrantes, mas a população em vulnerabilidade social e econômica que esteja atuando em pequenas facções de vestuários, destacando o trabalho com mulheres, buscando a promoção de relações dignas de trabalho por meio do empreendedorismo”, conta Cristina Filizzola, diretora e coordenadora do Tecendo Sonhos.
O contexto, que já era por si só era desafiador, teve com a chegada da pandemia de Covid-19 um adicional. Com início em dezembro de 2019, o projeto contou com duas etapas realizadas presencialmente: o diagnóstico local e o primeiro treinamento das organizações parceiras, em março deste ano. Com as medidas de distanciamento sociais, as ações foram replanejadas e as metodologias adaptadas, tanto para a realidade das mulheres locais, como para encontros online e o uso do Whatsapp. Entre os assuntos, gestão de negócios e como inovar e cuidar das finanças em tempos de crise, apoiando as empreendedoras neste momento.
“O curso foi uma oportunidade de profissionalizar o sonho da minha mãe ser uma costureira com a própria empresa”, explica Magda Cristina da Silva que ao lado de Josineide toca o Caprichosa Costura, ateliê em Caruaru. “Foi renovador, uma oportunidade grande em um momento muito difícil que a gente está vivendo”, complementa Josineide.
A Caprichosa Costura nasceu durante a pandemia e de um desejo antigo de Josineide. Mãe de dois filhos e com uma neta, ela contou com apoio da filha Magda. “Vi a divulgação do curso e descobri que era a chance que a minha mãe aguardava. Ela gostou da ideia, mas minha empolgação era maior, então resolvi me inscrever também, assim eu passaria pela experiência, aprenderia e poderia ajudá-la ainda mais”. De lá pra cá tudo se transformou.
“As nossas vidas mudaram bastante por conta da pandemia, pelo impulso criativo e de realização que o Tecendo Sonhos nos proporcionou. Geração de renda extra em uma época tão complexa e economicamente árida nos permitiu voar mais alto”, reforça Magda.
Novos maquinários e peças, parcerias e um espaço físico para atender em horário marcado são as conquistas recentes das empreendedoras. “Com o Tecendo Sonhos vimos oportunidades de negócios, conhecemos mais o mercado, produzimos peças, captamos clientes, fizemos vendas, desenvolvemos novos produtos, realizamos entregas, pensamos nas embalagens, desenvolvemos relacionamento com fornecedores e tantas outras atividades que não faziam parte de nossas vidas”, relembra Magda.
Segundo o mais recente levantamento realizado pelo Sebrae que avaliou os impactos da
crise nos pequenos negócios brasileiros, o setor da moda já é o segundo mais afetado no país pelo novo coronavírus: 90% dos entrevistados alegaram que tiveram seu faturamento mensal reduzido e 73% afirmaram ter interrompido temporariamente o funcionamento das atividades. Para Magda, o Tecendo Sonhos vem justamente ao encontro dessas necessidades. “Fazer parte do projeto foi fundamental. Além de nos trazer a sensação de segurança e de que estávamos no caminho certo, também nos trouxe a oportunidade da profissionalização, de aprender estratégias de negócios e de organização financeira e da produção”.
No total, as formações do Tecendo Sonhos beneficiaram diretamente 103 mulheres e 22 replicadoras que agora podem repassar as metodologias na região, além de 618 pessoas indiretamente, o que demonstra a relevância do projeto e o interesse pela temática do empreendedorismo e trabalho decente.
Para Josineide, que aprendeu a costurar quando criança com a mãe e que hoje toca o próprio negócio ao lado da filha, o projeto foi um divisor de águas e proporcionou muito mais que um trabalho. “Minha autoestima melhorou, tenho muitos sonhos e estou muito feliz.”
O programa Tecendo Sonhos é uma iniciativa da Aliança Empreendedora e conta com o apoio do Instituto C&A e da Secretaria Municipal de Política para Mulheres de Caruaru.