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Encontro Nacional de Microempreendedores e Parceiros – Todos Podem Empreender, em São Paulo, reuniu mais de 250 pessoas para falar sobre Diversidade e Colaboração.

“Pensar grande, começar pequeno e evoluir rápido”. Lia Cabral, autora da frase, foi uma das empreendedoras que participou do primeiro painel de Histórias Inspiradoras do Encontro Nacional de Microempreendedores e Parceiros – Todos Podem Empreender, realizado no dia 2 de julho, em São Paulo.

Promovido anualmente pela Aliança Empreendedora desde 2014, o evento tem como objetivo reunir microempreendedores de diferentes regiões do país apoiados pela AE, mentores, organizações de apoio ao microempreendedor e outros atores do ecossistema para debater empreendedorismo sob diferentes perspectivas.

A sexta edição teve como tema ‘Diversidade e Colaboração’, que permeou toda a programação, desde a apresentação de cases de sucesso, palestras e oficinas e até mesmo os momentos de almoço e intervalos com a feirinha gastronômica de empreendedorismo.

Ideias empreendedoras, histórias inspiradoras

O encontro contou com dois momentos destinados a inspirar os participantes. Para isso, sete microempreendedores contaram suas histórias de desafios, fracassos, recomeços e conquistas que traduzem sua jornada empreendedora.

Liberdade sem se ver 

Foi a busca por um emprego que inspirou Suzana Abreu a começar a empreender. Com deficiência visual, a audiodescrição mudou sua vida. “A deficiência visual requer mais adaptações, o que faz com que as empresas tenham um pouco de medo. Então pensei: ‘já que não estão me aceitando e não têm conhecimento, eu farei esse papel’. Criei um portal para sensibilizar as empresas e mostrar as ferramentas que usamos em audiodescrição.”

Mãe, empreendedora e hoje consultora, Suzana explicou que a audiodescrição a possibilita ter a mesma sensação de pessoas com visão plena ao ir ao cinema, por exemplo. “Este recurso trouxe algo que nós, pessoas com deficiência visual, não tínhamos: a sensação de pertencer. Hoje sou consultora e classifico audiodescrições. Assim, posso trabalhar e ao mesmo tempo lutar pela minha causa e espalhar a cultura de audiodescrição, para que possamos frequentar exposições como qualquer outro. Queremos ser vistos primeiro pelo que somos e como podemos contribuir com a sociedade.”

O poder transformador da educação 

Beatriz Santos era uma estudante do tipo ‘topa tudo’, ou seja, com proatividade, algo que hoje reconhece como um traço empreendedor. Foi em uma dessas oportunidades que ela e dois colegas embarcaram em um estudo sobre educação financeira. Quando se reencontraram, já na universidade, perceberam que não estavam sofrendo as consequências da crise econômica e sim investindo em planos de curto, médio e longo prazo. 

“Considerando as milhões de pessoas inadimplentes no Brasil, entendemos que era quase nossa obrigação repassar o que aprendemos em educação financeira no Ensino Médio. Por isso, criamos a Barkus Educacional, que oferece consultoria em controle financeiro e planejamento a grupos minorizados. Várias pessoas vieram nos contar que se tivessem tido acesso a esse conhecimento quando mais novas, suas vidas teriam sido diferentes. Assim, criamos o Atlas, uma metodologia ainda em validação para ensinar educação financeira a crianças e jovens. Queremos mostrar que com educação financeira dá para ensinar sobre competências socioemocionais, desenvolver autonomia, empatia e autoconhecimento.”

Não tem hora para mudar 

Autora da frase que abre esta matéria, Lia Cabral dividiu que, por conta de um acidente de trabalho enquanto técnica de enfermagem, precisou abandonar sua carreira. O trabalho junto a uma organização da sociedade civil que atuava em projetos sociais a incentivou a participar do projeto Cozinha Comunitária, do governo federal. Para receber os maquinários, precisou construir uma cozinha do zero. A partir daí, foram muitos os alimentos produzidos por Lia e seu sócio, desde marmitas, sorvetes, bolos e biscoitos, até chegar nos pães.

“Fizemos pesquisa de mercado, participamos de cursos, compramos maquinário, uma das máquinas veio com voltagem errada e tivemos que parar toda a produção. Mas, de tanto insistir, o produto será trocado para que possamos continuar. O que eu peço é que vocês nunca desistam dos seus sonhos. Hoje agradeço a meus colaboradores, minha família, minha filha, que não me deixou desistir, e à Aliança Empreendedora, que ouviu minha história e quis me trazer de Salvador até aqui.”

Nos solos da caatinga o empreendedorismo acontece

Com um chapéu de couro para representar seu estado natal, a Paraíba, Alexandre Limeira contou que durante muito tempo foi a agricultura que permitiu a sobrevivência de sua família. Foi na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no curso de Agroecologia, que precisou escolher entre usar o dinheiro que tinha para comprar material ou se alimentar. Tornar-se artesão e artista foi o que possibilitou que terminasse o curso.

Aplaudido de pé, ele contou que ao sair da faculdade, decidiu aplicar na prática o que aprendeu e começou a plantar nas terras do sogro. Além da plantação, Alexandre passou a empreender na criação de galinhas e chegou a ter 600 aves. A crise mudou seu rumo e hoje ele ensina pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA) e outras deficiências a empreender. “Tenho muito orgulho de onde vim e de falar da minha gente. E sempre digo que o primeiro passo rumo ao sucesso é dado quando você se recusa a ser refém do ambiente em que se encontra.”

De La Paz para São Paulo, uma jornada empreendedora 

Alicia Vargas relatou como saiu da Bolívia para trabalhar com costura no Brasil, mesmo sem saber costurar. Durante seis anos e meio, passou por diversas oficinas. Foi depois que casou-se e teve duas filhas que decidiu mudar sua vida. Como as meninas ficavam dentro de um quarto o dia todo para que ela pudesse trabalhar, abriu a própria oficina com seu esposo em 2014. A má remuneração pelo trabalho e outras dificuldades fizeram parte de sua trajetória.

Em 2017, conheceu o projeto Tecendo Sonhos, da Aliança Empreendedora, e foi durante a formação, que Alicia aprendeu diversos temas e se deu conta que muitas das coisas que fazia estavam incorretas. “As oficinas pelas quais eu passei não tinham sinalização e extintores. Como montei a minha oficina dessa forma, precisei melhorar. Também aprendi sobre precificação. Quando você não entende de um assunto, aceita o que te falam para não ficar sem serviço. Hoje, estou aplicando tudo o que aprendi e está dando resultados. Muitas vezes pensei em desistir, mas fui superando as dificuldades a cada dia. Eu falo que se você quer algo, tem que lutar para isso.”

Empreendedorismo transgressor: pessoas trans também podem 

Andréa Brazil, estilista e transempresária, expôs sua trajetória desde quando, criança, sofria preconceito por desenhar vestidos. Segundo ela, atuar no mercado da moda era o caminho mais viável para enfrentar os preconceitos que sofreu em diversos ambientes de trabalho. De cabeleireira de bairro, maquiadora e profissional de corte e costura, sentiu cada vez mais vontade de empreender no mundo LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Travestis e Queers).

Depois da criação de sua grife de moda e do Capacitrans, curso ‘de trans para trans’, Andrea recebeu apoio da igreja anglicana e sua marca – Andréa Brazil, Moda além do gênero -, começou a produzir vestes litúrgicas que foram levadas para os Estados Unidos. Hoje, Andréa dá aulas de empreendedorismo e contabiliza prêmios como Dandara e Zumbi dos Palmares. “Minhas alunas começaram a ocupar espaços em que antes eram negadas.”

Arte do recomeço

Marcele Porto encerrou o painel contando que sempre foi muito curiosa e queria entender o porquê de tudo. Um dia foi procurar a origem de ‘recomeço’, palavra que inspira medo em muita gente. Depois de fazer de tudo um pouco, Marcele partiu para um intercâmbio na África do Sul. Na volta ao Brasil, teve a ideia e apoio para abrir o Beers Five, primeiro hostel temático de cerveja do Rio de Janeiro. Depois de um longo período sem hóspedes, amizades e dinheiro perdido e demitida de um emprego como consultora de Tecnologia da Informação (T.I), Marcele recebeu o Prêmio Citi Jovem Empreendedor. Ela conta que a cerimônia a fez abrir os olhos para o conhecimento acumulado ao longo de sua vida.

“Quando voltei a colaborar com o ecossistema empreendedor, entrei para a Rede Mulher Empreendedora, apoiei e sempre apoiarei a Aliança Empreendedora, virei mentora do Mulheres do Brasil, entrei para um grupo de cases de empreendedores do Facebook e representei o Brasil fora do país. Tudo isso porque o hostel me levou a lugares inimagináveis. Quando eu achava que minha vida estava toda equilibrada, tive que recomeçar, pois o dono da casa onde estava o hostel quis vender o imóvel. Encerrei o projeto e me tornei empreendedora da educação. Acabo de lançar meu livro e voltar da Colômbia, onde recebi um prêmio de melhor mentora do mundo. Eu acredito que todo dia é um novo começo.”

Oficinas 

Por ter um caráter prático, o Encontro também contou com espaços destinados à realização de oficinas por parceiros da Aliança Empreendedora, onde os participantes puderam ‘colocar a mão na massa’, trocar ideias de como podem melhorar seus negócios, colaborando com outros empreendedores e trabalhando com a diversidade.

Ao todo, oito oficinas somaram-se à programação do evento. As propostas foram diversas e conversaram com o tema do Encontro: Diversidade e Colaboração. Uso do Mercado Pago, ferramentas do Facebook e Instagram, como as promoções podem alavancar as vendas, oficina de mentoria, conhecimento coletivo, empatia para criar estratégias criativas, empreendedorismo na era 4.0 e a comunicação como chave para ter mais colaboração foram alguns dos temas trabalhados.

 

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