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Na ultima revista “Ideal Comunitário”, do Instituto Camargo Corrêa, saiu uma matéria do Projeto Geração Y, confira!

Numa manhã de outono, em um município na Região Metropolitana de Curitiba, seis jovens se preparam para falar do futuro. César, Otávio, Augusto, Ricardo, Pedro e Davi (nomes fictícios) saíram de situações muito

parecidas, de violência, drogas e poucas perspectivas. O mais novo tem 15 anos, o mais velho há pouco completou 19. Cometeram  atos infracionais e, por isso, hoje estão privados de liberdade. Mas não falam mais disso. Não se lamentam por estarem ali, no Centro de Socioeducação de Fazenda Rio Grande. No dia 17 de abril, eles foram as estrelas de mais uma Feira de Ideias do Geração Y, projeto do Instituto Camargo Corrêa (ICC), Ashoka e Aliança Empreendedora, voltado à valorização e o incentivo de ações que unam

empreendedorismo e transformação social tendo como público-alvo jovens de baixa renda de Curitiba e arredores. Iniciado em 2010, o Geração Y já apoiou a criação de 31 pequenos negócios e 12 projetos sociais, com a participação de 310 pessoas, de 16 a 30 anos. O programa obedece três etapas principais: o Laboratório de Ideias, onde os jovens são estimulados a pensar no que gostariam de fazer, no que isso impactaria sua realidade social e em como levar o projeto a cabo; a Feira de Ideias, em que são  instigados a apresentar suas propostas de negócio ou ação social a profissionais que já trabalham e recebem sugestões e orientações para aprimorar a ideia, e a Banca Final, quando os projetos são avaliados. Se aprovados nesta última fase, os jovens passam a receber incentivos diversos, de cursos de capacitação a crédito diferenciado, além de um investimento inicial de até R$ 1.500, chamado de “Microcrédito” para negócios e “Semente” para os projetos sociais. A coordenadora do projeto, Karine Carvalho, da Aliança Empreendedora, conta que a iniciativa com os meninos de Fazenda Rio Grande é pioneira dentro do projeto. “Sempre tivemos co mo estratégia divulgar a ação em bairros e regiões mais vulneráveis e, a partir disso, esperávamos que as pessoas que tinham  interesse viessem até nós. Foi a primeira vez que nos colocamos dentro de uma unidade de internamento, onde os jovens estão em situação de vulnerabilidade extrema”, relata. Segundo ela, os relatos das facilitadoras que trabalharam com o grupo indicam uma mudança muito positiva na postura e atitude dos adolescentes. “Eles passaram a se reconhecer como agentes de transformação, capazes de colocar ações de empreendedorismo em prática e contribuir para melhorar a realidade deles e de suas famílias”, afirma Karine.

Para a coordenadora do Programa de Juventude da Ashoka, Mafoane Odara, o grande diferencial do Geração Y é agregar a questão do empreendedorismo a projetos sociais e a questão social aos negócios, tornando-se também uma ferramenta de empoderamento. “Os jovens recebem oportunidades para criar e lidar com os próprios sonhos e a partir disso criar impacto positivo em suas comunidades”, comenta. Mafoane também aposta nos resultados positivos do trabalho com adolescentes cumprindo medida socioeducativa. “Especificamente nesse grupo, que tem perspectivas de vida muito ruins, o projeto apresenta uma possibilidade verdadeira de reinserção na sociedade.”

Depois de passarem pela Feira de Ideias, os meninos de Fazenda Rio Grande agora se preparam para a Banca Final. Quando contam seus planos, empolgam-se. O mais novo, César, resume bem o estado de ânimo geral dos amigos: “Quando entrei aqui, acharam que ia sair ainda pior. Vou sair melhor”, diz. Ele pretende trabalhar como DJ, fazendo animação de festas. “Não esperava encontrar essa oportunidade. Vou me capacitar e trabalhar com meu pai, que tem um lava-carros”, conta Davi. Como ele, outros quatro jovens pretendem aproveitar a experiência no projeto para aperfeiçoar as atividades já desenvolvidas pela família. Otávio, Augusto e Pedro fazem  planos para trabalhar com mecânica de automóveis. Já Ricardo quer incrementar o negócio do pai, que trabalha com pintura, e incluir pintura automotiva. “Minha mãe está amando, acreditando que posso mesmo mudar”, diz o jovem. O Centro de Socioeducação de Fazenda Rio Grande mantém  hoje 30 adolescentes, de Curitiba e outras cidades do Paraná. Os seis que participam do Geração Y foram escolhidos pela equipe técnica da entidade para integrar o projeto por demonstrarem, durante o trabalho de socialização a que estão submetidos, potencial de empreendedorismo. Mas a proposta pode crescer. Os atuais participantes já demonstraram interesse em incluir os colegas no projeto.

Da teoria à prática

O projeto Geração Y forma jovens capazes de liderar empreendimentos de caráter econômico e social que favoreçam suas habilidades pessoais e o desenvolvimento das comunidades onde vivem. Além de serem oportunidades de trabalho e geração de renda, as iniciativas desenvolvidas dentro do projeto transformam a vida dos jovens participantes, que muitas vezes descobrem talentos, reencontram a autoestima e até mesmo resgatam tradições familiares para desenhar os seus planos de negócio ou projetos sociais. Conheça a seguir três histórias de jovens que passaram pelo Geração Y, foram aprovados pela Banca Final e agora veem o que aprenderam transformar-se em vida real.

 Do ônibus para o jardim

Em meados de 2011, no ônibus, Adriano Stella, 26 anos, voltava de uma consulta ao dentista. Do centro de Curitiba até o Fazendinha, bairro no sul da cidade, tinha tempo de sobra para pensar na vida. Inclusive para prestar mais atenção a um cartaz que havia visto dias antes, no mesmo coletivo. Um anúncio do projeto Geração Y. “Achei interessante, anotei o telefone  e  fui atrás.  Lá, descobri que já estava empreendendo, mesmo sem saber o que era ser empreendedor”, diz o rapaz, que ajudava o pai com serviços de jardinagem. “Gostava de jardinagem, mas pensava naquilo como um extra, não como profissão. No Geração Y, aprendi que podia fazer disso meu projeto de vida”, conta Adriano.

Depois da banca, o jovem fez um curso sobre plantio e manejo de agrotóxicos. Sua intenção é especializar-se em paisagismo e no futuro fazer um curso superior  afim – como Agronomia ou Botânica. Hoje, com 27 clientes e o pai como sócio, ele está formalizando sua empresa, a Aquarela Jardim. “Nossa meta é chegar a cem clientes. Também temos a possibilidade de começar a trabalhar com escolas. A princípio, seriam  dez, podendo aumentar para 50”, conta. Graças ao Geração Y, também está em contato com empresários que podem  atuar como “Anjos Investidores”, pessoas dispostas e investir na ideia. “O mais bacana é que gosto muito do que faço e que é algo que levo da minha família. Meu avô era jardineiro e meu pai também começou trabalhando com ele. Sempre gostamos do contato com a terra”, conta o rapaz. Também mostra que está afiado ao vocabulário do meio empresarial: “Nossa empresa tem como missão reintegrar as pessoas com a natureza e temos conseguido isso. É muito gratificante ver a satisfação dos clientes com nosso trabalho”. E conclui: “Valeu mesmo pegar aquele ônibus. Mudou minha vida.”

Ação social sobre quatro rodinhas

No bairro Boqueirão, um dos maiores de Curitiba, se perguntarem por Fábio Stamato, poucos sabem quem é. Mas o professor Risada, do Pé no Skate, é muito conhecido. Fábio tem  26 anos e tornou-se skatista aos 14. Depois dos 20, deixou o skate meio de lado, mas redescobriu o esporte em 2007, incentivado por um amigo que frequenta a mesma igreja que ele. “Durante uma viagem, falamos sobre evangelizar a galera do skate”, conta. “Quando voltamos para Curitiba, nosso pastor propôs abrirmos um projeto social dentro de uma pista de skate. Não hesitei e abracei a causa.” Começou a dar aulas para meninos e meninas de 6 a 16 anos, em uma pista particular e, três anos mais tarde, também em uma escola. No ano passado, o trabalho deu um salto: ele e uma amiga, a pedagoga Heliani Silva, que auxilia na parte disciplinar do Pé no Skate, foram  apresentados ao Geração Y.  “O projeto ganhou ferramentas importantes de gestão. Aprendemos, por exemplo, que ação social deve ter metas, início, meio e fim, até para ser mais efetiva”, diz. A próxima etapa é tornar o projeto autossustentável, com a produção e venda de artigos ligados à cultura do skate. “As aulas de skate são a ferramenta que utilizamos para transmitir aos nossos alunos valores cristãos e noções de direitos e deveres.” Eles recebem ainda suporte pedagógico, acompanhamento de nutricionista e de estudantes de educação física, além de tratamento odontológico”, afirma Fábio. Eles pretendem abrir cinco novas turmas em Curitiba e em outras cidades até o fim do ano e tem como meta é investir nos atletas que surgirem nas aulas. “A cada aluno que passa por nós, vejo com  alegria o quanto estamos avançando.”

Sonhos de chocolate

Rosângela Scharnoski tem 30 anos. É de União da Vitória, cidade no sudeste do Paraná. Veio para Curitiba há oito anos, com o marido, ator, em busca de mais oportunidades de trabalho para ele. Foi trabalhar em um consultório de dentista, como auxiliar, mas sempre gostou mesmo é de cozinhar. Especialmente, doces. “Fazia por hobby”, diz. A conversa começou a mudar quando, ao ver na TV um “festival de trufas”, resolveu fazer uma versão caseira do evento: experimentou, trocou ingredientes e criou a própria receita. E o que era apenas uma diversão tornou-se o embrião da empresa Doce e Truffas, que virou realidade no ano passado, depois que a hoje microempresária conheceu o Geração Y. “Aprendi no projeto que não bastava entender de cozinha: precisava aprender sobre gestão financeira, administração, mercado, concorrência”, conta. Além das cerca de 600 trufas produzidas por mês, passou a fazer bolos. Dois cafés da cidade já se tornaram clientes fixos. Na Páscoa, investiu com sucesso em ovos de chocolate especiais. A próxima etapa é a formalização do negócio. “Com isso, vou conseguir comprar matéria-prima a preços melhores, entreoutras coisas”, diz. Rosângela pretende ainda capacitar-se na área de confeitaria, com um curso de finalização de doces, para deixar os quitutes mais atraentes, e expor  a produçãoem um blog.

O lado mãe também ganhou com a mudança de carreira: “Passo mais tempo com meus filhos.” E até o marido entrou no negócio – é o responsável pelas entregas. “Graças ao Geração Y, tirei do papel o sonho de trabalhar com algo por que sou apaixonada”, diz Rosângela.

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