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Educação empreendedora e acesso a crédito estão entre os principais gargalos, segundo especialistas.

Em 2018, mais de 50 milhões de brasileiros estavam à frente de um empreendimento, e mais da metade fatura somente até R$1.000 por mês, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM).

Reconhecendo a importância do setor para o desenvolvimento econômico e social do país, diversas organizações, públicas e privadas, passaram a atuar no estímulo e apoio à criação e ao fortalecimento de pequenos negócios.

Para contribuir com a expansão e a articulação desse ecossistema na busca de soluções para o setor, a Aliança Empreendedora e o Bank of America Merrill Lynch realizaram a 3ª edição do Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo.

O evento aconteceu no dia 3 de julho, em São Paulo, e reuniu cerca de 230 pessoas entre microempreendedores, gestores públicos, representantes do terceiro setor e outros atores do ecossistema do microempreendedorismo no Brasil. Com uma programação repleta de painéis e oficinas, o evento buscou promover uma visão holística (3600) do campo a partir de perspectivas diversas de diferentes atores que atuam pela sustentabilidade do setor.

Desenvolvimento pela Inclusão Produtiva foi o tema que norteou os debates desta edição, que contou com a participação de especialistas no assunto, além de microempreendedores que compartilharam suas histórias e jornadas inspiradoras e oficinas temáticas que deram o tom prático do evento, convidando atores diversos do ecossistema para juntos construírem soluções para os desafios do setor.

“Estamos falando de empreendedorismo nas comunidades porque acreditamos que esse é o canal para gerar desenvolvimento social. A Aliança atua em parceria com esse ecossistema de organizações que estão na ponta fazendo acontecer porque acreditamos que a construção conjunta de soluções é o melhor caminho”, afirmou Lina Maria Useche, cofundadora e diretora executiva da Aliança Empreendedora.

Thiago Fernandes, responsável pela área de Meio Ambiente, Social e Governança do Bank of America Merrill Lynch na América Latina, mencionou a importância do mapeamento realizado pela Aliança Empreendedora de organizações públicas, privadas e mistas que fomentam a criação e/ou o fortalecimento de microempreendimentos no país, seja por meio de capacitação, treinamentos, consultorias e mentorias, seja promovendo acesso a crédito, redes de contatos e comercialização, entre outros tipos de apoio.

“Queremos auxiliar a base da pirâmide brasileira e, para isso, entender como e para quem o apoio está sendo oferecido e quais as dores de quem está oferecendo esse apoio é primordial. Não é óbvio, nem trivial e esse mapa oferece a essas organizações a oportunidade de se conhecerem e aos microempreendedores a informação de onde está o apoio de que precisam”, afirma Thiago.

Desenvolvimento pela Inclusão Produtiva

Conceito que pressupõe a articulação de ações e programas que favorecem a inserção no mundo do trabalho, a inclusão produtiva reúne iniciativas de apoio como oferta de qualificação profissional e intermediação de mão de obra a microempreendedores e cooperativas de economia solidária.

Pequenos e médios empreendedores são responsáveis por uma relevante fatia da economia brasileira. Mais do que isso, eles movimentam economias locais, promovem inclusão e impacto social.

Dados da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa (SEMPE), do Governo Federal, revelam que o setor responde por 27% do Produto Interno Bruto (PIB), 54% dos empregos formais e 99% das empresas. São 6,4 milhões de estabelecimentos no Brasil, que respondem por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado.

O Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo promoveu o debate do assunto a partir dos pilares da capacitação e da inclusão financeira.

Formação técnica e empreendedora

Para Fernanda Ribeiro, presidente da Afrobusiness Brasil, é fundamental promover uma educação que inclua desde o empreendedor que está começando até o mais avançado.

“Temos hoje 14 milhões de desempregados e o empreendedorismo acaba sendo uma saída para o sustento. Muitas vezes, o que falta é o acesso à educação empreendedora. Vejo hoje muitas organizações preocupadas com essa educação, mas ainda na lógica da ‘startupização’. E nós sabemos que o microempreendedor, que movimenta a base da pirâmide, não necessariamente tem um negócio de base tecnológica”, observou.

Patricia Mayana, do Sebrae Nacional, acredita que formato e linguagem são os grandes desafios no tema da educação empreendedora. “Nós fazemos uma pesquisa sobre a falência dos pequenos negócios e um dos motivos mais citados é a falta de clientes. Mas nós sabemos que mercado não é o problema, mas sim o desconhecimento sobre as necessidades do cliente e produto ou serviço inadequado, e isso tem a ver com falta de formação. Todos podem aprender a empreender”, destacou.

Para Vandré Brilhante, fundador e diretor-presidente do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS), a fórmula está na junção entre formação, território e rede. “Formação por formação não cria o empreendedor que a gente quer. Quando falamos de formação, estamos falando de várias ações integradas: rede, informação, acesso e parcerias. No CIEDS, procuramos construir isso junto à comunidade, a partir do saber de cada um.”

Para o especialista, no entanto, é necessário ter em mente que empreender não é a solução para tudo. “No processo de combater as desigualdades e promover a inclusão, o empreendedorismo é uma ferramenta, mas sozinho não vai transformar o Brasil no país que a gente quer. Também precisamos de mais saúde, educação e boa gestão.”

Inclusão financeira: acesso a crédito

Filipe Sabará, presidente do Fundo Social do Estado de São Paulo, identifica o acesso a crédito como outro gargalo no fomento ao microempreendedorismo. Para ele, é necessário promover um novo jeito de analisar riscos.

“A grande barreira ainda são os mecanismos de análise. A maioria dos microempreendedores tem dívidas. Esse critério tem que mudar. No Fundo Social de São Paulo nós criamos a qualificação como critério de análise para conceder crédito a essas pessoas. Quem participa da Praça da Cidadania tem acesso. Precisamos descentralizar o mercado financeiro.”

Segundo Mauricio Prado, do Plano CDE, em estudo realizado recentemente a partir de dados do Banco Central, verificou-se que, nos últimos anos, cresceu muito o acesso a crédito habitacional e consignado, dois créditos vinculados a garantia. “Em 2019, muitos bancos ainda consideram como elementos de análise o endereço e o vínculo CLT. Precisamos oferecer um crédito mais comportamental e já existe tecnologia para isso. E sempre aliar acesso a crédito a formação. Educação financeira e crédito são duas coisas indissociáveis.”

Construindo soluções conjuntas

Por meio de oficinas temáticas, os participantes do Fórum tiveram papel ativo na construção de soluções com troca de saberes e experiências entre microempreendedores e representantes de organizações apoiadoras.

Acesso a formação técnica; apoio a públicos específicos (mulheres, afrodescendentes, público LGBTI, imigrantes); habilidades de inovação, diferenciação e valor agregado aos produtos e serviços; e habilidades de idealização e planejamento do futuro foram os temas das oficinas no período da manhã.

À tarde, as atividades abordaram estímulo para incubadoras e aceleradoras ao apoio a microempreendedores de baixa renda; ampliação da oferta de crédito para microempreendedores; acesso a crédito; e participação de organismos públicos, especialmente municipais e estaduais.

Ao final do evento, o resultado desse amplo arcabouço de trabalho em grupo foi compartilhado com todos a fim de tecer um quadro amplo de soluções para os principais desafios do setor no Brasil.

Conhecimento

O Fórum também garantiu espaço para disseminação de dados, pesquisas e informações sobre o campo em duas exposições que recepcionaram os participantes do evento com um convite à imersão na realidade brasileira, onde puderam mergulhar mais a fundo no contexto brasileiro, no perfil do microempreendedor e no ecossistema de apoio.

As fotos do Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo já estão disponíveis na página da Aliança no Facebook.  E para conhecer mais sobre o mapeamento das organizações do ecossistema microempreendedor pode acessar o site do Empreender 360, já são mais de 650 organizações cadastradas!

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