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Saiba como o empreendedorismo feminino é um dos principais motores da economia do país

No Brasil, as mulheres ultrapassaram os homens numericamente na criação de novos negócios e em sua manutenção. A taxa de empreendedorismo feminino de empresas com até três anos e meio de existência ficou em 15,4% frente aos 12,6% entre os homens. As informações estão no estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, coordenado no Brasil pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ).

O mesmo estudo aponta que o Brasil é um dos três países onde a população feminina é mais propícia a empreender (19,9% contra 19,2% no caso dos homens). As mulheres são ainda reconhecidas por serem boas líderes, organizadas e até melhorarem o resultado das empresas. Entre 2001 e 2014, o número de mulheres donas de negócios aumentou em 34%.

Os números são animadores, mas há ainda muitas barreiras a serem ultrapassadas pelas mulheres quando o assunto é empreendedorismo, sejam elas sociais, econômicas ou culturais. Uma delas, talvez a que mereça mais atenção, é a psicológica. Mulheres, em geral, não são criadas com mentalidade empreendedora. Ainda segundo os dados do GEM, 48% das empreendedoras começam por necessidade. Ou seja, não empreendem por que tiveram uma ideia inovadora e querem colocá-la em prática, mas porque as circunstâncias as forçam a empreender, seja por dificuldade de acesso ao mercado formal ou para estar mais tempo junto da família.

Na Aliança Empreendedora, mais de 60% do público atendido é composto por mulheres. Elas têm maior faturamento do que os homens, mas muitas não são formalizadas e geram menos postos de trabalho. Helena Casanovas Vieira, diretora de pesquisa e desenvolvimento da Aliança, destaca em um webinar especial sobre empreendedorismo e gênero (disponível para acesso gratuito na plataforma Tamo Junto) que “o apoio dado às mulheres para que empreendam é diferenciado justamente porque elas não estão acostumadas a ouvir desde pequenas que podem empreender. A capacitação precisa trabalhar essa questão, porque isso pode ter impacto direto no resultado do negócio. E também criar uma rede de apoio, trabalhar com elas que as mulheres podem se fortalecer enquanto empreendedoras”.

Erica Sacchi Zanotti, gerente de programas sociais do Consulado da Mulher, também tem entre as mulheres atendidas uma maioria que empreende por necessidade, e não por ter uma ideia criativa. “Elas geralmente começam dentro de casa, e com muito pouco investimento. E em algum momento têm conflitos familiares por produzirem no espaço comum da casa, ou por terem que dedicar muitas horas a essa produção.”

A experiência do Consulado da Mulher, que incentiva mulheres que empreendem no ramo da alimentação, aponta como traço mais marcante do empreendedorismo feminino a resiliência: “Elas não desistem. Às vezes reduzem a produção por dificuldade de capital para comprar a matéria prima, ou porque a situação fica difícil com algum conflito familiar, ou de repente os pais ficam doentes e é preciso cuidar deles. Mas mesmo que não consigam atender a uma grande demanda em um determinado momento, elas continuam produzindo em menor escala”, aponta Erica.

Outro dado interessante trazido por ela é que nos últimos anos as mulheres atendidas pelo Consulado se entendem melhor como mulheres de negócio e empreendedoras. Começam a compreender o que é empreender e que isso pode virar um grande negócio dependendo do olhar e de como tempo e recursos são investidos nisso.

Resiliência é mesmo a palavra

A empreendedora Célia Regina Procópio dos Santos trabalha com produção de uniformes desde 2003 em São Paulo. Ela e uma tia criaram um plano para atender a um público inicial muito específico – uma escola -, e começaram a fabricar uniformes. Na época, Célia não entendia muito de corte e costura, e a saída era passar o serviço para um cortador e uma costureira. Os uniformes eram vendidos dentro da própria escola. A questão logística era também um ponto de dificuldade, porque ela dependia de alguém para levar os sacolas e caixas com os produtos.10

Hoje Célia sabe costurar, o público atendido foi ampliado e o marido se juntou ao empreendimento CM&C Confecções cuidando das entregas.

Dentre as dificuldades apontadas por Célia para empreender estão “a falta de apoio, o acesso a crédito e o preconceito por ser mulher e negra”. Mas ela mesma diz que empreender, para as mulheres, parece natural, porque elas têm mais facilidade para delegar tarefas e para manter a pontualidade das entregas.

Já Natália Tonin Gonzales, uma jovem empreendedora que trabalha em Florianópolis com design floral, atendendo encomendas e entregas customizadas de arranjos de flores para os clientes, avalia que a mulher é muito articuladora e consegue ter uma visão geral das coisas quando o assunto é empreendedorismo.

“Não é que o homem não tenha, mas eu vejo a mulher como um ser que historicamente cuida da casa, depois vai para o trabalho, que cuida dos filhos e, assim, consegue articular vários campos da vida. Então acho que isso acaba sendo um fator benéfico para a gente ao empreender. Mas a questão empreendedora não tem a ver necessariamente com o gênero, varia muito de pessoa para pessoa. Não sinto muito o preconceito, talvez por trabalhar com flores, algo que culturalmente foi associado ao feminino”, diz.

Microempreendedora individual (MEI), Natália montou um estúdio no apartamento para trabalhar na montagem dos arranjos de flores customizados. Graduada em arquitetura e urbanismo, ela sempre trabalhou na área de paisagismo, e também cursou disciplinas em agronomia e botânica, além de fazer cursos técnicos na área de floricultura.

Depois de passar por formação promovida pela Aliança Empreendedora, Natalia montou aos poucos o negócio, que começou mesmo com a floricultura itinerante. “Encontrar aquelas pessoas contando suas experiências, me fez realmente despertar para a possibilidade de empreender. Eu saí do curso com a bicicleta e uns arranjos, para testar, e logo de início foi sucesso. E não parei mais”.

O negócio também inclui assinaturas mensais de composições florais e, claro, a floricultura itinerante, ação pela qual ela iniciou seu empreendimento.

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