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Encontro reuniu empreendedores imigrantes e diversos atores da indústria da moda para debater sobre relações justas de trabalho e resultados do programa.

Promover o diálogo entre empreendedores imigrantes, representantes de marcas de roupas, oficinas de costura, entidades governamentais e organizações que apoiam profissionais da indústria da moda e apresentar pesquisas de impacto e inclusão financeira do Programa Tecendo Sonhos foram os objetivos da segunda edição do Evento Setorial do Tecendo Sonhos, promovido pela Aliança Empreendedora no dia 3 de outubro, na Unibes Cultural, em São Paulo.

Cristina Filizzola, coordenadora do Programa Tecendo Sonhos, explica que o evento foi pensado visando principalmente a troca entre diferentes atores da indústria têxtil.

“O segundo momento foi o grande diferencial do evento: promover um espaço de diálogo e conexão entre pequenas marcas de roupas que trabalham com sustentabilidade e já têm preocupação com quem está produzindo as roupas que compram, com as oficinas de costura formada por imigrantes do Tecendo Sonhos”, disse Cristina.

Impacto do Tecendo Sonhos

Tecendo Sonhos é um programa da Aliança Empreendedora com o objetivo de promover relações dignas de trabalho na cadeia têxtil a partir do empreendedorismo, priorizando o diálogo com imigrantes latino-americanos. Também é por meio do programa que se busca a promoção de maior segurança e saúde aos trabalhadores, frente aos altos riscos de acidentes e doenças que os ambientes da cadeia têxtil podem oferecer.

A programação do evento contou com a exposição de resultados alcançados pelo programa desde sua criação em 2014. Em cinco anos de existência, mais de 300 oficinas de costura foram atendidas e mais de mil pessoas em situação de vulnerabilidade social foram beneficiadas.

Tecendo Sonhos 02

Repercutindo as descobertas da pesquisa, Cristina afirmou que houve avanços em diferentes frentes de atuação do programa, desde a conscientização inicial dos empreendedores, que precisam se reconhecer como tal, até impactos mais práticos, como redução da jornada de trabalho e ampliação de conhecimentos sobre precificação, negociação e controles administrativos.

“Ainda há um grande gargalo, entretanto, que é promover essa ponte entre as oficinas e novos mercados. Esse é um desafio do setor como um todo, muito por conta da situação social de isolamento e dependência financeira e de formação que esse grupo se encontra. O mercado de fast fashion é opressor e traz muita concorrência, o que faz com que pequenas confecções tenham dificuldade para contratar funcionários regularmente, por exemplo.”

Nesse sentido, Cristina aponta que possíveis próximos passos do programa são investir na construção de relações de mercado mais fortes e justas e atuar mais fortemente em advocacy para pensar novos modelos e arranjos, tanto no âmbito da formalização do negócio, quanto da contratação de funcionários.

A primeira parte do evento também foi dedicada à apresentação da pesquisa Inclusão Financeira de Imigrantes na Cadeia da Moda, realizada pelo Plano CDE em parceria com a AE. “Pelo perfil do imigrante, percebemos que há muita dificuldade de ter de fato uma inclusão financeira, assim como a maioria dos empreendedores de baixa renda no Brasil. Entretanto, as fintechs e startups de inclusão financeira têm ajudado muito nesse quesito”, afirmou Cristina.

O levantamento mostrou que um dos pontos a avançar  para que imigrantes tenham melhores condições financeiras é o acesso a conteúdo. Por isso, como resultado da pesquisa, a AE, em parceria com imigrantes, produziu dois vídeos em espanhol sobre a importância de abrir uma conta bancária e controles financeiros. Outro produto que é resultado da pesquisa é a veiculação de quatro programas de rádio sobre inclusão financeira nas rádios mais ouvidas pelos imigrantes, mapeadas em uma pesquisa em parceria com o Mastercard Center for Inclusive Growth. (carol, a Cristina ficou de confirmar essa informação.)

Trabalho na cadeia da moda

Promover relações justas de trabalho na cadeia da moda é um dos objetivos do programa da AE. Por isso, o evento contou com convidados para discutir a realidade de oficinas e locais de trabalho relacionados à indústria têxtil.

Flávia Aranha, estilista e criadora da marca que leva seu nome, participou de uma mesa para contar a relação com oficinas de costura e o incentivo a uma produção sustentável. O Instituto Alinha também marcou presença, uma plataforma que promove a conexão entre mercado e oficinas de costura. “As marcas que contratam oficinas via plataforma ganham uma etiqueta rastreada por blockchain (‘cadeira de blocos’ em tradução livre, termo usado para designar tecnologia que registra informações de transações), certificando que a peça foi produzida de forma justa, digna e sem trabalho escravo”, explica Cristina.

Conexão entre pontas

Para as vivências práticas, a AE contou com o apoio de Cristina Chiarastella, fundadora do Estilistas Brasileiros, plataforma que reúne marcas que trabalham com moda sustentável e slow fashion (termo que prega um consumo consciente na moda, uma alternativa ao fast fashion.)

As marcas e oficinas de costura mapeadas, juntamente com instituições de base que trabalham com imigrantes e representantes do setor da moda, como a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), juntas discutiram os principais desafios e potencialidades dessa conexão.

Fotos Tecendo sonho 01

“Foi uma atividade criativa  entre diferentes elos da cadeia, especialmente as marcas e as oficinas de costura. Como anfitriã de um dos oito grupos, ouvi sobre a dificuldade de as oficinas encontrarem novas marcas e clientes, pois estão muito relacionadas às confecções do Brás e Bom Retiro e, por isso, não conhecem outros mercados dentro da moda. Os representantes das marcas, entretanto, também mencionaram dificuldade em conhecer as oficinas, então é preciso pensar em como fazer em match [conexão]”, explicou Cristina.

Cristina também comentou sobre outros pontos levantados pelos grupos, como a dificuldade por parte das marcas de encontrar oficinas que aceitam produções em menor quantidade, assim como o desafio de conhecer aquelas que produzem peças específicas, como é o caso de beachwear (moda praia), que demanda conhecimento e maquinário próprio. “O grupo do qual participei relatou sobre o quanto é importante desenvolver um relacionamento entre marcas e oficinas, o que praticamente inexiste. Às vezes, isso tem uma importância maior do que outros fatores, como o preço. Ele é muito importante para o mercado, mas não é a única questão.”

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Para além da discussão criativa, Cristina afirma que o encontro possibilitou o contato das marcas tanto com o programa Tecendo Sonhos e a capacitação que oferece às oficinas, quanto com os próprios microempreendedores latino-americanos e suas histórias de vida.

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